domingo, 15 de junho de 2014

O aprendizado da motricidade voluntária


Prezados Colegas,
Espero que estejam bem e com saúde!

Esta é minha primeira postagem sobre fisioterapia neurológica. Quando atendemos um paciente neurológico observamos diferentes dificuldades, por isso, vou ponderar sobre a o aprendizado da motricidade voluntária de um paciente com quadriparesia por uma paralisia cerebral.

Para que o paciente aprenda um dado movimento, é preciso pensar que ele deve estar inicialmente numa posição adequada e segura, o que melhora a tonicidade muscular e por sua vez facilita a movimentação voluntária.

Quando a criança foi colocada (foto) sentada em frente a uns brinquedos, objetivaram-se os seguintes movimentos voluntários: flexão do tronco (diferentes ângulos, pois dois brinquedos em alturas diferentes foram colocados), abdução das escápulas (a criança apresenta uma retração importante devido ao encurtamento do músculo trapézio médio, flexão dos ombros, extensão dos cotovelos e movimentos de punhos e mãos para tocar os brinquedos).

Os movimentos foram solicitados com o comando “vamos pegar o brinquedo” e a partir disto, os movimentos foram facilitados, já que estes eram deficientes pela falta de força muscular (o desuso prolongado determina a fraqueza muscular mesmo em pacientes espásticos), espasticidade, seletividade e controle muscular (perda neuronal pela lesão desencadeia prejuízo na contração muscular).

Durante a atividade observou-se que, os músculos e as articulações dos membros superiores e tronco não apresentavam autonomia para mover-se sozinhos e por isso (a alteração do posicionamento do centro de gravidade, alongamento de fibras musculares, posicionamento da cabeça altera o padrão tônico muscular da criança) auxiliou-se a criança realizar os movimentos para que os brinquedos fossem tocados. Durante todo o arco de movimento foram dados comandos verbais (o comando verbal facilita o aprendizado, pois a criança tentar acionar os músculos que executam os movimentos).

Quando o brinquedo foi tocado, as mãos da criança foram abertas e o brinquedo foi colocado para que ela pudesse brincar (a criança não era capaz de abrir e fechar as mãos para manipular o brinquedo). Estes movimentos foram repetidos por várias vezes e as alterações tônicas observadas foram diminuindo com as repetições (a repetição de uma atividade é fundamental para o aprendizado do ato proposto).

Os mesmos princípios foram utilizados quando a criança foi colocada na posição de gato e em pé. A criança não era capaz de sair de uma posição para outra e, portanto, a criança foi colocada nas posições que haviam sido planejadas antes da sessão a partir da avaliação das suas necessidades.

A família foi orientada a repetir a mesma atividade “brincadeira” em casa no mínimo três vezes por semana para reforçar o aprendizado.


A pérola fisioterapêutica desta postagem norteia-se em:
As manobras fisioterapêuticas devem estar relacionadas com uma atividade funcional e devem ser repetidas várias vezes durante uma sessão terapêutica, para que o cliente e sua família sejam capazes de reproduzir em casa, oportunizando um aprendizado mais eficaz e, consequentemente, uma capacidade motora melhor.

Por hoje é isto!

Espero que você possa pensar neste assunto e fazer suas considerações deixando um comentário e compartilhando o post.
Um abraço fisioterapêutico.

2 comentários:

  1. Oi Augusto! Parabens pela iniciativa!

    Poderia a estabilizacao de pelve e do tronco facilitar a movimentacao ativo-assistida dos membros superiores?

    Poderia a flexao total passiva ou ativo-assistida de punho somada ao comando verbal "dobre o punho para abrir a maozinha" auxiliar na extensao de dedos, ativacao da coordenacao motora grossa (para manipular o brinquedo), e aprendizagem de como interagir com o brinquedo?

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    1. Olá Pricila.
      Muito obrigado pelo apoio a minha iniciativa e pelo comentário,

      Resposta da primeira pergunta:
      A criança foi colocada na posição sentada e seu tronco estabilizado pensando exatamente na facilitação dos movimentos dos membros superiores que depende da mobilidade escapular.
      Este paciente apresenta uma musculatura de tronco ainda fraca e não consegue se manter sentado e por isso, sua capacidade manual torna-se ainda mais difícil.
      A fraqueza da musculatura do tronco dificulta a movimentação rítmica das escápulas quando se realiza movimentos com os membros superiores, principalmente os de amplitudes maiores.
      Quando a criança foi colocada em pé o seu quadril foi estabilizado para que o tronco superior estivesse adequado e as escápulas se movessem melhor durante o movimento voluntário.
      Em alguns pacientes precisamos mobilizar a pelve, o tronco superior e inferior, as escápulas para depois conseguirmos uma boa mobilidade ativa de membros superiores.

      Resposta da segunda pergunta:
      Quando se flexiona o punho há o encurtamento dos flexores de punho e dedos e quando se estende o punho, os flexores são alongados. A intensidade do encurtamento e alongamento dependerá da amplitude articular do movimento e, portanto, a extensão excessiva dificultará a flexão dos dedos e vice versa.
      Partindo deste princípio a facilitação da flexão ou extensão do punho para a manipulação do brinquedo associada ao comando verbal facilitará a função da mão desde que utilize uma amplitude funcional.

      Abraço

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