Prezados Colegas
Espero que estejam bem e com saúde.
Esta postagem trata sobre fisioterapia neurológica em parkinsonianos.
A
doença de Parkinson (DP) afeta dois a
cada 100 idosos com mais de 65 anos e apresenta quatro sintomas típicos: a)
bradicinesia que consiste na diminuição dos movimentos espontâneos
especialmente os automáticos, b) rigidez muscular, c) tremor de repouso que
desaparece ao movimento voluntário e d) instabilidade postural. Estes sintomas contribuem
negativamente nas atividades funcionais simples como comer, tomar banho e
participação social.
As
evidências científicas das intervenções fisioterapêuticas que permitem as melhoras motoras funcionais a curto e longo prazo ainda são emergentes. Porém, existem
diversas estratégias que podem ajudar as pessoas com DP a terem uma boa qualidade
de saúde e de vida.
A
lesão dos gânglios da base na DP deflagra déficit nos movimentos inconscientes
que são coordenados por esta estrutura e, portanto, os parkinsonianos devem ser
treinados a utilizar mais efetivamente o córtex frontal para regular os
movimentos conscientes para compensar o prejuízo funcional.
Pesquisas
mostraram que estímulos externos podem melhorar a caminhada compensando a
hipocinesia parkinsoniana. Sendo assim, enfatizar a utilização da visão durante
atividades motoras tem demonstrado melhoras nas atividades funcionais que
envolvam a marcha.
A
colocação de pistas visuais na forma de tiras coloridas pode ser muito eficaz
quando coladas no chão (por exemplo, no corredor que liga o quarto ao banheiro
ou pequenos sinais na parede perto da porta onde episódios de congelamento
(freezing) ou festinação ocorrem) na tentativa lembrá-los de retomar as medidas
de comprimento dos passos. (vide exemplo na figura abaixo)
Treinos
em frente ao espelho para visualização de passos longos, orientação para ensaios
mentais dos movimentos desejados, fragmentação de um grande movimento em
pequenos antes de um exercício e o esclarecimento ou orientação de uma atividade
antes de executá-la podem melhorar o padrão de movimento e, consequentemente, a
funcionalidade.
Muitos
pacientes têm dificuldade de manter os comportamentos motores aprendidos
durante uma terapia, pois para mantê-los é necessário uma grande estratégia
cognitiva e esforço mental, os quais podem causar uma fadiga importante nas
pequenas práticas funcionais.
Dessa
forma, os terapeutas precisam treinar as estratégias cognitivas seletivamente
para as tarefas funcionais importantes, ao invés de usá-las de forma contínua
durante todo o dia e durante toda a terapia.
Nos estágios
iniciais da DP observa-se a capacidade de aprender novas habilidades/sequências
motoras com diferentes níveis de complexidade de movimento/tarefas que se mantém
por horas. Isto reforça a importância de programas de treinamento com múltiplas
tarefas para parkinsonianos, pois cria um ambiente propício para aprender uma
vida mais funcional.
Para
parkinsonianos leves a moderados, recomenda-se fornecer terapias de alta
intensidade com sessões regulares de reforço com o objetivo de maximizar a aprendizagem
de habilidades motoras, porém deve-se respeitar a severidade dos distúrbios do
movimento, a capacidade da pessoa para a aprendizagem e as condições de saúde limitantes.
A
prática fisioterapêutica por ser diária ou até 3 vezes por semana e normalmente incluem repetições de um
determinado movimento ou sequência de ação, o uso de estímulos externos e
lembretes, segmentação de ações, além de exercícios ativos, assistidos e
resistidos. A contagem dos exercícios durante
uma sessão deve ser realizada em voz alta pelos participantes, a fim de estimular
as funções cognitivas. Tal contagem pode sofre variação (progressiva,
regressiva, par, ímpar) a cada exercício.
Treinamentos
fisioterapêuticos que melhoram a fraqueza muscular, perda de amplitude e
redução da capacidade aeróbica podem ajudar algumas pessoas com DP para
melhorar o equilíbrio, marcha e atividades motoras funcionais.
O
fortalecimento muscular em parkinsonianos tem sido bem discutido e tratado pela
literatura, pois a fraqueza é uma consequência da falta de condicionamento
associado à imobilidade determinada por esta doença progressiva crônica,
juntamente com o envelhecimento. A perda de força dos membros inferiores
contribui para problemas com equilíbrio, quedas e declínio funcional em idosos.
O fortalecimento tem demonstrando melhoras na força e boas respostas frente às
perturbações externas.
Quando
se estabelece um treinamento de fortalecimento muscular devem-se eleger os
músculos ou grupos musculares a serem treinados, o número de séries e
repetições e a intensidade do treinamento e carga/peso a ser aplicada.
O
treinando do sistema cardiovascular também tem sido incorporado na fisioterapia
neurológica para parkinsoniano, pois o sedentarismo causado pela DP tem
demonstrado alterações no consumo de oxigênio durante a execução de tarefas. Os
programas de condicionamento aeróbico surgem então como uma possibilidade de melhora
no consumo de oxigênio.
A
utilização da esteira durante as terapias tem demonstrado uma boa opção para o treino
do sistema cardiovascular, todavia, deve-se utilizar parâmetros de intensidade
do treinamento, tempo de treinamento, velocidade da esteira, frequência cardíaca
e pressão arterial.
A fisioterapia em grupo pode ser
associada às terapias individuais como uma forma de promover
um ambiente que estimula o convívio entre pessoas que tiveram suas vidas
alteradas pela mesma enfermidade e que, portanto, apresentam limitações
semelhantes.
As terapias em grupo podem ocorrer na posição
deitada em colchonetes passando para a posição de gato e em seguida para semi ajoelhado.
Nestas posições podem ser realizados exercícios de alongamentos e exercícios ativos
livres de membros superiores, inferiores e tronco. Na posição em pé, além dos
alongamentos e exercícios ativos, podem ser realizados exercícios de
coordenação e equilíbrio utilizando bolas, bastões, bambolês, cones, circuitos motores. Finalizar uma
sessão com exercícios respiratórios e de relaxamento na posição sentada
descansa o paciente e normaliza os valores cardiovasculares.
As fotos abaixo demonstram algumas atividades realizadas durante uma terapia
em grupo.
Esta publicação objetiva demonstrar que a
fisioterapia pode melhorar aspectos do equilíbrio, da marcha e capacidade
funcional geral. As considerações foram focadas para os estágios iniciais da
DP, pois podem amenizar as sequelas que interferem na função e prevenir declínios
associados ao desuso e envelhecimento. No entanto, é realista pensar que
alterações acima de 3 segundo a Escala Hoehn e Yahr devem ser tratadas de forma
diferente.
O fisioterapeuta deve utilizar uma avaliação qualitativa
e quantitativa para mensurar os progressos da terapêutica e da doença, além de
estabelecer o objetivo do seu programa de exercício.
A orientação do paciente e da sua família
sobre a doença com folders, textos e discussões são muito importante para
amenizar as dificuldades e facilitar a adesão aos exercícios e as orientações
após as sessões de fisioterapia.
A
pérola fisioterapêutica desta postagem norteia-se em:
Qualquer que seja a abordagem, o exercício é utilizado para sustentar uma boa qualidade de vida e os parkinsonianos devem fazê-los pelo menos algumas vezes por semana como parte de sua rotina diária, além daqueles praticados nas clínicas e consultórios. Portanto, cabe ao fisioterapeuta a orientação clara e objetiva das atividades que devem ser executadas em casa, discriminando os melhores períodos de execução, números de séries e repetições, tipos de exercícios.
Por hoje é isto!
Espero que você possa pensar neste assunto, utilizar com seus pacientes, fazer
seus comentários e compartilhar este post.
Indico a literatura abaixo que é muito interessante.
Um abraço fisioterapêutico e uma ótima semana.
Literatura indicada para leitura:
1- O Tratamento
Fisioterapêutico na Doença de Parkinson. Vara, A. C.; Medeiros, R.; Striebel,
V. L. W. Rev Neurosc., v. n. p. 1-7, 2011. 2- Eficácia de tratamento fisioterapêutico no
equilíbrio estático e dinâmico de pacientes com Doença de Parkinson.
Christofoletti, G.; Freitas, R. T.; Cândido, E. R.; Cardoso, C. S. Fisioterapia
e Pesquisa, v. v.17, n.3, n. p. 259-63,, 2010. 3- The beneficial role
of intensive exercise on Parkinson disease progression. Frazzitta G, Balbi P, Maestri R, Bertotti G, Boveri N, Pezzoli G. Am J Phys Med
Rehabil. 92(6):523-32, 2013.4- Parkinson disease
and exercise. Earhart GM, Falvo MJ. Compr Physiol. 3(2):833-48,
2013.5- Physical activity
and the brain: a review of this dynamic, bi-directional relationship. Loprinzi PD, Herod SM, Cardinal BJ, Noakes TD. Brain Res.:1539:95-104,
2013.6- Progressive
resistance exercise improves strength and physical performance in people with
mild to moderateParkinson's disease: a systematic review. Lima LO, Scianni A, Rodrigues-de-Paula
F. J Physiother. 59(1):7-13, 20137- Effects of exercise
on mobility in people with Parkinson's disease. van der Kolk
NM, King LA. Mov Disord.15;28(11):1587-96,
2013.