domingo, 7 de junho de 2015

Expectativas do paciente e da família sobre o tratamento.

Prezados  Alunos e Colegas Fisioterapeutas

Espero que estejam bem e com saúde!

A minha postagem hoje será sobre as expectativas do paciente e da família sobre o tratamento.

Quando recebemos um paciente em nossas clínicas e consultórios, para uma avaliação devemos pensar que ele e sua família têm uma expectativa sobre o tratamento e a doença.
Muitos deles não tiveram nenhuma explicação sobre a patologia e seu prognóstico.
Todo profissional deveria esclarecer ao paciente e sua família as características da doença, sua evolução e o prognóstico, além disso, quais avaliações e procedimentos terapêuticos serão utilizados.
Diante disto, os itens abaixo descreverão aspectos que podem ser considerados neste processo de avaliação e tratamento do paciente em nossas clínicas:

1-Desorientação diante do diagnóstico

O paciente tem o direito de saber sobre sua doença e como ela ocorreu em seu organismo.
Há necessidade de esclarecer como ocorre os sinais e sintomas, quais estruturas foram lesadas e como estas estruturas se apresentam durante o processo de lesão e a forma que ela se recupera.
Muitos pacientes não têm conhecimento do processo patológico e criam fantasmas sobre a doença. Todavia, algumas famílias optam pelo sigiloso da doença ou pedem para que o terapeuta não mencione nada sobre o prognóstico.
Cabe ao terapeuta perceber se o paciente está preparado para conversar sobre o assunto. Por isso, deve-se perguntar para o paciente se ele quer discutir o assunto, cabe ao terapeuta decidir a quantidade do conteúdo e o melhor momento.

2- Despersonalização do paciente

Muitos pacientes passaram suas vidas trabalhando e sendo bastante ativos e donos de suas próprias decisões.
Após a lesão eles passam ser tratados como crianças e o próprio terapeuta utiliza termos que reforçam este comportamento de cuidadores e familiares:

“  ... vou pegar sua mãozinha, ... seu pezinho,  ... toma a sua aguinha”

Cabe ao terapeuta orientar cuidadores e familiares que este comportamento deve ser mantido tão somente se o mesmo ocorria antes da lesão, pois isto pode redimensionar a concepção que o paciente tem da sua própria doença.
O que o paciente precisa é de respeito, cuidado e carinho.
Tratar disto com a família e os cuidadores é um processo complexo e delicado e cabe ao terapeuta avaliar o melhor momento para discutir. Quando for abordar o assunto deve fazer com cuidado, pois a família pode estar muito fragilizada e num processo de adoecimento muito intenso.
O terapeuta deve considerar o encaminhamento para um psicólogo.

3- Considerar a possibilidade de não obter a cura

O terapeuta precisa analisar qual é o melhor momento para informar o prognóstico. Muitos pacientes chegam em nossas clínicas e consultórios sem o prognóstico de seus médicos e as famílias criam expectativas de funcionalidades que não vão existir.
É muito comum famílias chegarem com seus familiares após um acidente vascular grave, uma lesão medular completa, uma paralisia cerebral querendo saber quando vão andar, mexer a mão, correr dentre outras funcionalidades.
É importante saber o que o paciente e sua família conhecem sobre o prognóstico e o que o médico disse para eles.
Já recebi pacientes que lhes foram dadas esperanças falsas e fantasiosas.
Dar a nossa opinião com cuidado baseados na ciência, na casuística é muito importante para não criarmos um transtorno profissional e pessoal.
Ser co-responsável com o médico pode ser uma atitude saudável e diante da divergência do prognóstico, o interessante é solicitar a informação oficial para o clínico responsável pela informação.

4- O desconforto da incapacidade

A incapacidade é um sintoma muito angustiante. O terapeuta precisa ser solidário ao seu paciente e aos familiares.
A incapacidade encontra obstáculos funcionais e estruturais/arquitetônicos.
Raras famílias e residências estão preparadas para receber um paciente com uma deficiência. O terapeuta precisa orientar a família sobre o assunto e ajudá-los cria soluções práticas para ter uma vida mais adequada.
Cabe ao terapeuta solicitar um terapeuta ocupacional para coordenar o assunto.
Muitos pacientes trazem sintomas de formigamento, amortecimento, dor, ansiedade e até desespero diante da incapacidade. Quanto mais este paciente for orientado da sua condição incapacitante, melhor será o processo de adaptação e poderá ocorrer de forma mais rápida, independentemente do prognóstico.
Cabe ao terapeuta em conjunto com seu paciente buscar soluções de adaptações diante da incapacidade.

5- O impulso de animar o paciente e sua família

Familiares podem não ter a dimensão da incapacidade do paciente e julgar que estímulos excessivos (positivos e negativos) poderão facilitar o processo de recuperação.
Muitos destes familiares não têm conhecimento suficiente para entender os sinais e sintomas e que os mesmos independem da vontade do paciente.
Muitos dos meus pacientes relatam que familiares querem que eles reajam e tenham comportamentos anteriores a sua doença, como andar rápido, fazer trabalhos na casa, não curvar-se para frente, não tremer, não arrastar a perna, etc.
Cabe ao terapeuta esclarecer que alguns sinais e sintomas das doenças podem ser amenizados e até desaparecer enquanto que outros podem permanecer para sempre e ou progredir.
Além disso, deverá orientar que os exercicios de casa são importantes para que estes sinais e sintomas sejam controlados ou até eliminados.
O terapeuta também deverá orientar que a família deve criar um ambiente que proporcione condições de uma vida funcional mais fácil, mesmo quando a carência econômica é alta.

6- Conhecer as capacidades funcionais

O paciente com incapacidade muitas vezes tem um suporte tão grande que impede que ele tenha ou busque uma vida funcional.
Muitos dos meus pacientes relatam passar grande parte do dia sentado em sofás em frente à televisão e que todas as refeições são realizadas ali.
Cabe ao terapeuta colher do paciente as atividades que ele executa durante 24 horas e co-responsabilizá-lo do seu sedentarismo, além disso, propor uma mudança de comportamento com atividades que ele deve executar ao longo do dia.
As tarefas devem estimular suas capacidades funcionais existentes e progressivamente exigir novas competências. Sobre este item destaca-se ainda:
O terapeuta dever criar intervenções para aumentar a auto confiança do paciente:
a) fazer o indivíduo enfrentar e vencer uma situação que é vista como ameaçadora;
b) apresentação de um modelo a ser seguido – exemplo: ver outros hemiplégicos realizando exercícios pode aumentar a confiança;
c) convencer o indivíduo de que é capaz de realizar a atividade;
d) executar testes que permitam a identificação do nível de capacidade atual e propor objetivos a serem alcançados;
e) dar esclarecimento da realidade que deverá ser trabalhada, através de discussões sobre a incapacidade, sobre o medo da discriminação, da valorização excessiva das perdas funcionais dentre outros assuntos.




A pérola fisioterapêutica desta postagem norteia-se em:

O conhecimento da nova realidade física funcional do paciente após uma lesão é responsabilidade do terapeuta e pode ser considerada como uma abordagem fisioterapêutica importante para melhorar a habilidade motora e a qualidade de vida do paciente.

Por hoje é isto!
Espero que você possa pensar neste assunto, utilizar em seus pacientes e fazer suas considerações deixando um comentário e compartilhando este post.


Um abraço fisioterapêutico.
Augusto Cesinando