domingo, 23 de agosto de 2015

Fisioterapia em grupo no formato de circuito de treinamento

Prezados Colegas e alunos

Espero que estejam bem e com saúde!

A minha postagem hoje será sobre a prática de tarefas orientadas em fisioterapia em grupo no formato de circuito de treinamento.

A reabilitação visa reduzir a incapacidade para otimizar o desempenho de tarefas diárias, todavia muitos pacientes apresentam deficiências motora funcionais crônicas. Muitas pessoas podem caminhar de forma independente; no entanto, apenas uma pequena proporção pode andar com velocidade suficiente e resistência para habilitar-se a caminhar efetivamente na sua comunidade.

A intensificação da atividade física impulsiona a recuperação funcional após um acidente vascular cerebral (AVC), e há fortes evidências de que quanto mais tempo se gasta em terapia específica para a tarefa melhores resultados funcionais serão alcançados. Além disso, muitas repetições de tarefas específicas têm mostrado facilitar positivamente a neuroplasticidade em sobreviventes de AVC.

Métodos terapêuticos que forneçam uma quantidade maior da terapia baseada em tarefas específicas na recuperação funcional são bem aceitos. A fisioterapia em grupo no formato de circuito de treinamento (FGCT) é um modelo de terapia com tarefas específicas e tem demonstrado ser um meio muito eficaz e com uma boa relação custo benefício(1, 2).

Fornecer terapia para tarefas específicas a grupos de hemiparéticos tem sido proposto como um método de aumentar a quantidade de tempo que as pessoas passam ativamente empenhados numa tarefa. Outros benefícios da terapia de grupo incluem o apoio dos pares e interrelação social bem como a economia de custos para o sistema de saúde.

Após estudos estabelecemos um modelo de FGCT no Centro de Estudos e Atendimentos em Fisioterapia e Reabilitação (CEAFIR) na UNESP, campus de Presidente Prudente.

A FGCT é composto de estações são espaços montados com graus de dificuldades diferentes na realização do exercício. São utilizados bastões, cadeiras, escada e rampa, cones, mapas de sinalização na construção das estações.


A figura abaixo apresenta as tarefas específicas das estações 1, 3 e 4.


1ª Estação: Paciente sentado numa cadeira com as mãos entrelaçadas deve fazer flexão de ombro com flexão completa de tronco até tocar ao chão em seguida fazer a rotação de tronco.
3ª Estação: Paciente em pé com as mãos entrelaçadas deve fazer a flexão completa de ombro esticando uma corda elástica.
4ª Estação: Paciente em pé segurando uma barra deve baixar até próximo ao chão, tornozelos.

A figura abaixo apresenta as tarefas específicas das estações 2, 5 e 6.


2ª Estação: Três círculos de 15 cm formando um triângulo são colados na parede a 120 cm do chão. O paciente deve tocar cada círculo com as mãos entrelaçadas.
5ª Estação: Três círculos de 15 cm formando um triângulo são colados na parede no chão. O paciente deve tocar cada círculo utilizando um bastão com as mãos entrelaçadas. O paciente deve ficar o mais distante possível.
6ª Estação: Três círculos de 15 cm formando um triângulo são colados na parede a 220 cm do chão. O paciente deve tocar cada círculo utilizando um bastão com as mãos entrelaçadas.

A figura abaixo apresenta as tarefas específicas das estações 7, 8, 9 e 10.


7ª Estação: Um espaldar em frente ao paciente. Na posição ortostática numa das barras o paciente fazer a dorsoflexão e flexão plantar.
8ª Estação: Uma barra paralela Na posição ortostática segurando na barra o paciente deve andar lateralmente pulando cada obstáculo no chão.
9ª Estação: Uma escada de madeira com 5 degraus que termina numa plataforma de 90 x 90 cm e seguida inicia uma rampa de 6 graus de inclinação. O paciente deve subir pela escada e descer pela rampa e vice versa.
10ª Estação: Um bastão e dois círculos pregados no chão. O paciente em pé segurando um bastão com as mãos entrelaçadas faz o movimento de rotação de tronco acertando cada círculo.

No início de cada sessão de FGCT são distribuídos cartões com o número da estação que cada hemiparético irá iniciar a sua atividade. A distribuição ocorre para ter uma melhor organização da dinâmica, além de estimular a cognição, a organização pessoal e a noção espacial. São alocados no máximo 2 pacientes em cada estação.

As estações podem ser mudadas de posição para melhorar a capacidade de resolução de problemas espaciais.

O tempo em que os hemiparéticos ficam em cada estação é de 2 minutos e ao final trocam de estações, ou seja, quem estava na estação número 1 é encaminhado para a estação número 2 e assim sucessivamente. Todo esse processo ocorre durante 1 hora e cada paciente passa pela mesma estação mais de uma vez. O fisioterapeuta pode introduzir a contagem do número de repetições, além pode dar um tempo de descanso entre as estações.

A FGCT é considerada um programa de intervenção terapêutica adaptada com foco na prática de tarefas específicas funcionais fornecida a mais de 2 participantes com semelhante ou diferentes graus de capacidade funcional. 

O interessante desta terapia é que ela desenvolve a responsabilidade do hemiparético coordenar seu movimento e a qualidade do mesmo, além da oportunidade de se comparar com o seu parceiro de estação.

O progresso dos participantes deve ser continuamente monitorado com escalas de avaliações e atividades são adaptadas conforme necessário.

A progressão do grau de dificuldade pode ser realizada periodicamente. Cada estação pode ser elaborada pelo fisioterapeuta para atender a demanda dos seus pacientes.

A experiência alcançada com este modelo terapêutico nos permite afirmar que os hemiparéticos apresentam-se motivados durante as atividades propostas e demonstram satisfeitos com a terapia, pois participam efetivamente durante das tarefas, além disso, o tratamento proporciona uma interação social entre hemiparéticos e também pode ser interpretado como um estímulo durante esta a prática de exercícios funcionais repetidas vezes.

Podemos inferir que os hemiparéticos tem uma maior possibilidade de melhorar a mobilidade e autonomia funcional. Os exercícios utilizados durante as terapias parecem exigir mais fisicamente do que àqueles utilizados durante as terapias convencionais. Além disso, é um espaço terapêutico seguro, viável e aplicável em hemiparéticos crônicos, que pode ser oferecido ao paciente no momento da alta da fisioterapia convencional, dando lhe a oportunidade de se manterem ativos e de se adaptarem às suas limitações, evitando a progressão das suas incapacidades e sedentarismo.

A pérola fisioterapêutica desta postagem norteia-se em:

A fisioterapia em grupo no formato de circuito de treinamento de tarefas específicas é uma possibilidade a mais que o fisioterapeuta tem para oferecer aos seus pacientes para melhorar a habilidade motora e a qualidade de vida do paciente.


Por hoje é isto!
Espero que você possa pensar neste assunto, utilizar em seus pacientes e fazer suas considerações deixando um comentário e compartilhando este post.


Um abraço fisioterapêutico.

Bibliografia sugerida:

1.    Dean CM, Richards CL, Malouin F. Task-related circuit training improves performance of locomotor tasks in chronic stroke: a randomized, controlled pilot trial. Arch Phys Med Rehabil. 2000 Apr;81(4):409-17
2.    English C, Hillier S. Circuit class therapy for improving mobility after stroke: a systematic review. J Rehabil Med. 2011 Jun;43(7):565-71.
3.   English C, Bernhardt J, Crotty M, Esterman A, Segal L, Hillier S. Circuit class therapy or seven-day week therapy for increasing rehabilitation intensity of therapy after stroke (CIRCIT): a randomized controlled trial. Int J Stroke. 2015 Jun;10(4):594-602.

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