terça-feira, 28 de agosto de 2018

Conversando sobre o Exercício e a Esclerose Múltipla


Prezados Colegas Fisioterapeutas, Alunos e Pacientes  
Espero que estejam bem!
A minha postagem hoje será sobre o exercício para a pessoa com Esclerose Múltipla

No dia 30 de agosto comemoraremos o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla (EM) que é uma doença auto-imune, desmielinizante e que afeta aproximadamente 2,3 milhões de pessoas em todo o mundo.  As medicações atuais têm contribuído para a melhoria dos cuidados de saúde, bem como, têm ajudado mais pacientes a permanecerem estáveis ​​em sua doença, e consequentemente, viverem mais tempo. Todavia, o declínio da função ainda ocorre ao longo do tempo e na maioria das pessoas, por essa razão, desenvolve uma incapacidade física permanente. Sendo assim, a progressão da doença e os danos resultantes comprometem a qualidade vida.
A Fisioterapia tem como objetivo compensar as deficiências sensório-motoras e para tanto alguns aspectos precisam ficar evidentes para a pessoa com EM durante o tratamento.
No dia 25 de agosto de 2018, no Hospital Regional de Presidente Prudente foi realizado um evento com pessoas com EM e seus familiares para celebrar o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla que ocorrerá dia 30 deste mês.



Neste evento apresentei numa mesa redonda uma aula a partir minha experiência, dos meus estudos e dos questionamentos dos pacientes na prática clínica. Destaquei a importância do exercício em forma de perguntas e respostas que considerei importante:
Paciente: Por que eu tenho que fazer exercícios quando tenho esclerose múltipla?
Fisioterapeuta:
Todas as pessoas precisam fazer exercício independentemente de ter ou não uma doença. O exercício melhora a flexibilidade muscular, a mobilidade articular, a condição cardiorrespiratória, dentre outros benefícios.
O corpo humano foi projetado para realizar movimentos e quando ele fica muito tempo parado apresentará prejuízos como encurtamentos, flacidez muscular e acúmulo de gordura. Portanto, o sedentarismo é muito prejudicial ao corpo humano.  
A EM causa déficits importantes ao longo do tempo e quanto mais sedentário você for maior será as consequências da doença no seu corpo. 
Paciente: Quais são as características da esclerose múltipla que o exercício pode ajudar?
Fisioterapeuta:
Quando se faz exercícios o corpo precisa reagir porque sempre trabalhamos as deficiências desencadeadas pela doença. Portanto, o exercício melhora a força e a flexibilidade muscular, o equilíbrio e a coordenação, condicionamento cardiorrespiratório e diminui a fadiga e o risco de queda.
Cada dificuldade funcional que a EM causa deve ser trabalhada utilizando exercícios que simulem esta dificuldade tais como, por exemplo, levantar e sentar de uma cadeira, subir escadas. Quando não se faz exercício o corpo não reage, se mantem com a dificuldade e, portanto as dificuldades se mantêm.
Paciente: Quando eu devo parar de fazer exercícios?
Fisioterapeuta:
Todas as pessoas com ou sem EM devem fazer exercícios diariamente. O Colégio Americano de Medicina do Esporte preconiza que temos que andar 10.000 passos por dia e fazer exercícios 3 a 5 vezes por semana. Portanto, não pode-se parar de fazer exercícios.
Muitas vezes a pessoa com EM tem um grau de fadiga importante que faz com se desanime e pare temporariamente a prática de exercícios. Entretanto, isto é errado, porque quando a pessoa para de fazer exercícios perde-se muito do que se ganhou no período de treinamento.
Paciente: As vezes acho que os exercícios não alteram nada em minha vida.
Fisioterapeuta:
Este sentimento é comum. Às vezes a pessoa com EM não percebe as mudanças que o exercício faz em seu corpo porque acredita que ficará sem nenhum sinal e sintoma da EM.
O exercício faz pequenas mudanças no corpo que se soma ao longo tempo, além disso, previne perdas funcionais causadas pela EM.
Paciente: Devo fazer exercícios quando estou cansado?
Fisioterapeuta:
O cansaço (fadiga) é uma das características da EM. Não se pode deixar de fazer exercício quando se sente cansado ou fadigado, porém deve-se respeitar e diminuir a intensidade, a quantidade de exercício ou e também o número de dias de exercício.
Após o exercício não pode sentir-se esgotado ou com dor, pois isto é um sinal de excesso de trabalho podendo causar prejuízos funcionais. Adicionalmente, deixar de fazer exercício a cada estado de cansaço pode diminuir muito a qualidade e o resultado do exercício.
Paciente: Quais os tipos de exercícios eu posso fazer?
Fisioterapeuta:
Não há uma clara proibição para um modelo de exercício, todavia qualquer modalidade de exercício deve ocorrer após uma avaliação adequada utilizando critérios para medir as disfunções e as capacidades, com o objetivo de fazer um acompanhamento adequado.
As altas intensidades de exercícios com uma grande sobrecarga de peso, muitas repetições e dias por semana pode desencadear lesões muscular, ligamentares, articulares e dores, portando a intensidade deve ser moderada.
Observa-se trabalhos científicos com treino em esteira, pilates, fortalecimento muscular, natação demonstrando os benefícios do exercício devidamente ministrado.
Não fazer nenhuma modalidade de exercício leva ao sedentarismo e suas complicações. Fazer exercícios de alta intensidade, de muitas repetições causa lesão, fadiga e dor.
Paciente: Devo fazer exercício individual ou num grupo?
Fisioterapeuta:
Ambas as formas são recomendadas, todavia dependendo da evolução da EM você pode não acompanhar as atividades propostas no grupo, e portanto a terapia individual torna-se mais recomendada porque é elaborada especificamente para atender suas necessidades.
As terapias em grupo normalmente trabalham funcionalidade e dão oportunidades de conviver com pessoas na mesma situação permitindo as trocas de experiências. Pode-se também fazer as duas modalidades.
O primeiro vídeo demonstra um momento de fisioterapia em grupo no modelo de circuito de treinamento onde cada participante trabalha uma funcionalidade em estações separadas e ao comando troca de estação. O segundo vídeo demonstra um trabalho de coordenação, equilíbrio, memória e respiração utilizando o canto e a dança.

vídeo 1


vídeo 2


Paciente: Porque devo fazer exercícios em casa?
Fisioterapeuta:
Normalmente as pessoas com EM fazem sessões de 30 a 50 minutos de fisioterapia, 2 ou 3 vezes por semana e os demais dias você podem realizar os exercícios recomendados em sua casa, e por isso podendo treinar ainda mais seu corpo.
Fazer exercícios em casa requer treino, disposição e tempo para você cuidar de você. O corpo reage somente quando os estímulos são repetitivos. O seu fisioterapeuta pode elaborar uma cartilha de exercícios complementares ou os mesmo que você pratica durante as suas sessões.
Paciente: Quando devo adaptar minha casa ?
Fisioterapeuta:
Muitas vezes as pessoas recebem o diagnóstico de EM já apresentavam alguns sinais da doença, como dificuldade de andar e desequilíbrio e nestes casos a adaptação deve ser imediata.
As adaptações podem ser progressivas conforme os sinais vão surgindo. Algumas delas são retirar os tapetes evitando as quedas, colocação de barras de apoio no box do banheiro, assento fixo para lavar os pés,  portas toalhas e suporte para xampu fixo e de fácil acesso, bucha com cabo alongamento para auxiliar lavar as costas, tapete emborrachado dentro do box para não escorregar na espuma,  manter uma luz acesa a noite para iluminar o acesso ao banheiro, elevar a cama para facilitar o ficar em pé, poltronas e sofás confortáveis e com braços e assento alto para facilitar o sentar e o levantar.
O terapeuta ocupacional é o profissional preparado para dar as orientações necessárias para facilitar melhor suas funcionalidades.
Paciente: Quando devo usar uma bengala ou andador?
Fisioterapeuta:
Usar ou não uma bengala ou andador é uma decisão conjunta com o seu fisioterapeuta, todavia muitas pessoas com EM tem dificuldade de aceitar o uso acreditando que as pessoas irão identifica-los como doentes.
Quando o risco de queda é alto essa decisão deve ser tomada o mais rápido possível porque uma fratura óssea pode trazer muitas complicações. A adaptação da bengala pode ocorrer dentro de casa e se estender para as casas de pessoas mais próximas e assim a pessoa com EM perceberá a importância do acessório para sua segurança.
Paciente: O que eu faço quando os exercícios frustram as minhas expectativas?
Fisioterapeuta:
A EM é uma doença incapacitante e tem seu curso natural que pode ser controlado com a medicação, os exercícios e demais atividades propostas por outros profissionais da equipe.
Quanto mais a pessoa com EM participar de forma correta do seu tratamento, buscando conhecimento da doença com os profissionais, esclarecendo as pessoas ao seu redor menor será a sua frustração.
A psicologia é fundamental para o entendimento e aceitação das consequências da EM.

A pérola fisioterapêutica desta postagem norteia-se em:
O fisioterapeuta precisa estar sempre esclarecendo a importância do exercício para a pessoa com EM para que a adesão ao tratamento seja boa e constante e com isso pode-se obter um melhor resultado no tratamento.

Por hoje é isto!
Espero que você possa pensar neste assunto e fazer suas considerações deixando um comentário e compartilhando este post.

Um abraço.
Augusto Cesinando

Bibliografia Recomendada

Halabchi, F., Alizadeh, Z., Sahraian, M.A., Abolhasani, M.,Exercise prescription for patients with multiple sclerosis; potential benefits and practical recommendations. BMC Neurol. 2017 Sep 16;17(1):185. doi: 10.1186/s12883-017-0960-9.