segunda-feira, 28 de julho de 2014

Preocupação com a mobilidade responsável pela funcionalidade de hemiplégicos


Prezados Colegas,
Espero que estejam bem e com saúde!

Esta postagem trata do porquê que um fisioterapeuta deve se preocupar com a mobilidade responsável pela funcionalidade diária de um paciente hemiplégico.

Durante a avaliação de um paciente deve se questionar como ele realiza os movimentos responsáveis pelas atividades funcionais, pois é neste momento que se obtém informações do paciente e de sua família sobre o comportamento funcional frente ao déficit de mobilidade determinado pelo acidente vascular encefálico (AVE). O Índice de Barthel Modificado (IBM) é uma escala que pode facilitar esta avaliação.

O IBM dá condições de analisar a independência funcional no cuidado pessoal, mobilidade, locomoção e cada item é pontuado de acordo com o desempenho do paciente em realizar tarefas de forma independente, com alguma ajuda ou de forma dependente. Uma pontuação geral é formada atribuindo-se pontos em cada categoria, a depender do tempo e da assistência necessária a cada paciente. A pontuação varia de 0 a 50, em intervalos de cinco pontos e as pontuações mais elevadas indicam maior independência. A versão utilizada avalia a independência funcional em dez tarefas: alimentação, banho, vestuário, higiene pessoal, controle de esfíncter intestinal, controle de esfíncter vesical, uso do vaso sanitário, transferência cadeira-cama, deambulação e escadas.

ÍNDICE DE BARTHEL MODIFICADO

1. Alimentação

1.   Dependente. Precisa ser alimentado.
2.   Assistência ativa durante toda tarefa.
3.   Supervisão na refeição e assistência para tarefas associadas (sal, manteiga, fazer o prato).
4.   Independente, exceto para tarefas complexas como cortar a carne e abrir leite.
5.   Independente. Come sozinho, quando se põe a comida ao seu alcance. Deve ser capaz de fazer as ajudas técnicas quando necessário.
                                                                                                   Subtotal:
2. Higiene Pessoal
1.   Dependente. Incapaz de encarregar-se da higiene pessoal.
2.   Alguma assistência em todos os passos das tarefas.
3.   Alguma assistência em um ou mais passos das tarefas.
4.   Assistência mínima antes e/ou depois das tarefas.
5.   Independente para todas as tarefas como lavar seu rosto e mãos, pentear-se, escovar os dentes, e fazer a barba. Inclusive usar um barbeador elétrico ou de lâmina, colocar a lâmina ou ligar o barbeador, assim como alcançá-las no armário. As mulheres devem conseguir se maquiar e fazer penteados, se usar.
                                                                                                   Subtotal:

3. Uso do banheiro

1.   Dependente. Incapaz de realizar esta tarefa. Não participa.
2.   Assistência em todos os aspectos das tarefas.
3.   Assistência em alguns aspectos como nas transferências, manuseio das roupas, limpar-se, lavar as mãos.
4.   Independente com supervisão. Pode utilizar qualquer barra na parede ou qualquer suporte se o necessitar. Uso de urinol à noite, mas não é capaz de esvaziá-lo e limpá-lo.
5.   Independente em todos os passos. Se for necessário o uso de urinol, deve ser capaz de colocá-lo, esvaziá-lo e limpá-lo.
                                                                                                   Subtotal:

4. Banho

1.   Dependente em todos os passos. Não participa.
2.   Assistência em todos os aspectos.
3.   Assistência em alguns passos como a transferência, para lavar ou enxugar ou para completar algumas tarefas.
4.   Supervisão para segurança, ajustar temperatura ou na transferência.
5.   Independente. Deve ser capaz de executar todos os passos necessários sem que nenhuma outra pessoa esteja presente.
                                                                                                   Subtotal:
5. Continência do esfíncter anal.
1.   Incontinente.
2.   Assistência para assumir a posição apropriada e para as técnicas facilitatórias de evacuação.
3.   Assistência para uso das técnicas facilitatórias e para limpar-se. Freqüentemente tem evacuações acidentais.
4.   Supervisão ou ajuda para por o supositório ou enema. Tem algum acidente ocasional.
5.   O paciente é capaz de controlar o esfíncter anal sem acidentes. Pode usar um supositório ou enemas quando for necessário.
                                                                                                   Subtotal:

6. Continência do esfíncter vesical

1.   Incontinente. Uso de caráter interno.
2.   Incontinente, mas capaz de ajudar com um dispositivo interno ou externo.
3.   Permanece seco durante o dia, mas não à noite, necessitando de assistência de dispositivos.
4.   Tem apenas acidentes ocasionais. Necessita de ajuda para manusear o dispositivo interno ou externo (sonda ou catéter). 
5.   Capaz de controlar seu esfíncter de dia e de noite. Independente no manejo dos dispositivos internos e externos.
                                                                                                   Subtotal:

7. Vestir-se

1.   Incapaz de vestir-se sozinho. Não participa da tarefa.
2.   Assistência em todos os aspectos, mas participa de alguma forma.
3.   Assistência é requerida para colocar e/ou remover alguma roupa.
4.   Assistência apenas para fechar botões, zíperes, amarrar sapatos, sutiã, etc.
5.   O paciente pode vestir-se, ajustar-se e abotoar toda a roupa e dar laço (inclui o uso de adaptações). Esta atividade inclui o colocar de órteses. Podem usar suspensórios, calçadeiras ou roupas abertas.
                                                                                                   Subtotal:
8. Transferências (cama e cadeira)
1.   Dependente. Não participa da transferência. Necessita de ajuda (duas pessoas).
2.   Participa da transferência, mas necessita de ajuda máxima em todos os aspectos da transferência.
3.   Assistência em algum dos passos desta atividade.
4.   Precisa ser supervisionado ou recordado de um ou mais passos.
5.   Independente em todas as fases desta atividade. o paciente pode aproximar da cama ( com sua cadeira de rodas ), bloquear a cadeira, levantar os pedais, passar de forma segura para a cama, virar-se, sentar-se na cama, mudar de posição a cadeira de rodas, se for necessário para voltar e sentar-se nela e voltar à cadeira de rodas.
                                                                                                   Subtotal:

9. Subir e descer escadas

1.   Incapaz de usar degraus.
2.   Assistência em todos os aspectos.
3.   Sobe e desce, mas precisa de assistência durante alguns passos desta tarefa.
4.   Necessita de supervisão para segurança ou em situações de risco.
5.   Capaz de subir e descer escadas de forma segura e sem supervisão. Pode usar corrimão, bengalas e muletas, se for necessário. Deve ser capaz de levar o auxílio tanto ao subir quanto ao descer.
                                                                                                   Subtotal:

10. Deambulação

1.   Dependente na deambulação. Não participa.
2.   Assistência por uma ou mais pessoas durante toda a deambulação.
3.   Assistência necessária para alcançar apoio e deambular.
4.   Assistência mínima ou supervisão nas situações de risco ou período durante o percurso de 50 metros.
5.   Independente. Pode caminhar, ao menos 50 metros, sem ajuda ou supervisão. Pode usar órtese, bengalas, andadores ou muletas. Deve ser capaz de bloquear e desbloquear as órteses, levantar-se e sentar-se utilizando as correspondentes ajudas técnicas e colocar os auxílios necessários na posição de uso.
                                                                                                   Subtotal:
10-A. Manuseio da cadeira de rodas (Alternativo para deambulação)
1.   Dependente na deambulação em cadeira de rodas.
2.   Propulsiona a cadeira por curtas distâncias, superfícies planas. Assistência em todo o manejo da cadeira.
3.   Assistência para manipular a cadeira para a mesa, cama, banheiro, etc.
4.   Propulsiona em terrenos irregulares. Assistência mínima em subir e descer degraus, guias.
5.   Independente no uso de cadeira de rodas. Faz as manobras necessárias para se deslocar e propulsiona a cadeira por pelo menos 50 metros.
                                                                                                   Subtotal:
                                                                                      Total de pontos:

Fontes:
1) CARRILO, M. D. V.; GARCIA, M. F.; BLANCO, I. S. Escalas de actividade de la vida diaria. Rehabilitación. v. 28, n. 6, p. 377-388, 1994; 2) CHAGAS, E. F. Proposta de avaliação da simetria e transferência de peso e a relação desta condição com a atividade funcional do hemiplégico. 1999. 127f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas; 3) SHAH, S.; VANCLAY, F.; COOPER, B. Improving the sensitivity of the Barthel index for stroke rehabilitation. J. Clin Epidemiol, v. 42, n. 8, p. 703-709, 1989.

Muitas vezes observa-se que a família não permite ou protege o paciente das atividades das quais ele é capaz ou parcialmente capaz. Muitas famílias não retornam a rotina, como a de servir almoço na mesa da cozinha dando a alimentação na cama ou mesmo servindo na boca, além disso, durante o banho o paciente não participa da sua higiene, ficando ao cuidador realizar todas as tarefas. Muitos pacientes passam a maior parte do tempo sentados em sofás em frente à televisão ou em suas camas impedindo todas as suas experiências funcionais, podendo determinar uma sequela irrecuperável.

O fisioterapeuta deve lembrar a família e o cuidador que ainda que se gaste mais tempo quando o paciente realiza as atividades, cada movimento é muito importante para a recuperação das atividades gerais.

A falta de experiência que uma família tem quando um parente tem um AVE é nítida, pois as pessoas querem fazer tudo para o paciente. Isto é muito importante na fase aguda, todavia, isto não pode perdurar por semanas, pois o retorno das funções devem ser estimuladas já nas primeiras semanas, já que o retorno funcional deve ocorrer nos primeiros meses.

O medo da queda é um dos fatores que parece ser determinante para que as famílias façam todas as atividades para o paciente, associado ao cuidado excessivo por falta de orientação. A perda motora de um hemicorpo deve ser considerada e o paciente realmente precisa ser protegido e auxiliado. Porém, quando se observa o mínimo de movimentos deve-se estimular e propor tarefas e objetivos a serem alcançados.

Durante avaliação o fisioterapeuta deve explicar a importância de cada item avaliado e dar orientações de como vencer os obstáculos para melhorar o déficit apresentado com exercícios terapêuticos diários.

O índice deve ser visto como um ótimo roteiro de orientação e o fisioterapeuta pode criar suas atividades terapêuticas para melhorar os escores de cada item dividindo a responsabilidade com a família e o paciente.

As figuras ilustram alguns itens que são avaliados pelo IBM. Importante lembrar que a terapêutica utilizada pelo fisioterapeuta objetiva dar amplitude de movimento, força muscular, coordenação e equilíbrio para que as funções sejam executadas da melhor forma possível.



Esta avaliação pode ser feita periodicamente com o paciente e o cuidador, demonstrando a evolução dos resultados a cada avaliação e propondo novas tarefas para melhorar estes valores. Além disso, quando se estuda a dificuldade observada em cada item o fisioterapeuta pode propor exercícios que utilizem músculos e articulações responsáveis pela melhora da execução da tarefa deficitária.

Exemplos:

1) Para se sentar num vaso sanitário é necessário ter força muscular em flexores e extensores de quadris e joelhos, e podem ser treinados diariamente longe do vaso sanitário;
2) A fraqueza muscular de músculos da região do ombro e escápula podem dificultar a mobilidade necessária para a higiene pessoal. Uma vez testada a mobilidade e a força muscular, o treinamento destes facilitará a função;
3) O déficit de equilíbrio prejudica o ortostatismo de curto e longo período e o treinamento específico para desta debilidade poderá melhorar atividades funcionais.

A pérola fisioterapêutica desta postagem norteia-se em:

O fisioterapeuta deve fundamentar suas terapêuticas no retorno do movimento  para uma vida funcional adequada, além de conscientizar o paciente e sua família da importância da execução dos exercícios para o retorno funcional.

Por hoje é isto!
Espero que você possa pensar neste assunto e fazer suas considerações deixando um comentário e compartilhando este post.
Um abraço fisioterapêutico.



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