domingo, 2 de novembro de 2014

Como combater o sedentarismo no hemiparético?

Prezados Colegas,
Espero que estejam bem e com saúde!

Esta postagem trata do sedentarismo do paciente hemiparético.

Muitos pessoas após um acidente vascular encefálico (AVE) tornam-se hemipáreticos com um estilo de vida sedentário e um baixo desempenho das atividades da vida diária. Este estilo de vida sedentária contribui para um aumento do risco de ter um outro AVE e adquirir  outras doenças cardiovasculares.

Embora os sobreviventes de um AVE variam o grau de funcionalidade, diversos estudos tem encontrado baixos níveis de atividade física em hemiparéticos. Estes níveis são menores do que a de adultos mais velhos com outras condições crônicas de saúde.

A atividade física é definida como qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que resulta em gasto energético, enquanto que o exercício é um subconjunto de atividades físicas planejadas, estruturadas e repetitivas. Ambos melhoram ou mantém a aptidão física.

Há fortes evidências de que o exercício físico após o AVE pode melhorar a aptidão cardiovascular, capacidade de andar, a força muscular dos membros superiores e inferiores, o equilíbrio e a participação social. Além disso, tem sido utilizado  para melhorar os sintomas depressivos, a função executiva e memória do cérebro, a fadiga e a qualidade de vida.

Hemiparéticos sobreviventes de AVE podem se beneficiar do aumento da participação em atividades físicas, a partir de uma prescrição adequada para o treinamento físico. Portanto, fisioterapeutas precisam criar e ministrar uma programação exercício para seus pacientes, além das manobras fisioterapêuticas clássicas nas posições deitada, sentada e em pé. 

Artigos na literatura declaram uma lacuna de conhecimento atual em recomendações de atividade e exercício físico na população hemiparética.

Após um AVE recuperação total é alcançada em apenas uma pequena proporção dos sobreviventes e observa-se limitações de atividade das tarefas diárias após os 6 meses do insulto.

O sedentarismo é particularmente desconcertante em muitos dos hemiparéticos que tem a capacidade de empreender maiores níveis de atividade física, mas optam por não mudar seus estilos de vida por razões que perpassam pela (a) falta de consciência de que exercício é viável, e importante para uma vida mais saudável; (b) dificuldade de acesso a locais que tratem com exercícios periódicos estruturados e progressivos, (c) influências sociais e ambientais, tais como os custos do programa, meios de transporte, acessibilidade, apoio familiar, políticas sociais, dentre outras razões. O estilo de vida não é uma característica isolada e sim um conjunto de fatores.

Além destas razões deve-se lembrar que pacientes com AVE tem uma elevada prevalência de problemas médicos associados. Condições pré-existentes ao insulto como a hipertensão crônica, fibrilação atrial, hiperlipidemia, obesidade, fumante, etilismo crônico, síndrome metabólica e diabete mellitus podem ter implicações importantes no comportamento sedentário.

Estas condições podem criar um círculo vicioso de diminuição da atividade e maior intolerância ao exercício, o que leva a complicações secundárias, como a redução da aptidão cardiorrespiratória, aumento da fatigabilidade, fraqueza muscular, osteoporose e circulação prejudicada para as extremidades inferiores. Associado a isto, observa-se ainda a diminuição da auto eficácia, maior dependência de outras pessoas para as atividades da vida diária, e reduzida capacidade para interações sociais normais que pode ter um impacto psicológico negativo profundo.

A existência de condições cardiovasculares, antes ou depois do AVE podem atrasar ou inibir a participação em um programa de exercícios e limitar a capacidade do paciente de realizar atividades funcionais de forma independente. Há fortes evidências para uma clara relação inversa entre atividade física e saúde cardiovascular.

A inatividade ao longo dos dias, das semanas e dos meses é um dos maiores problemas relacionados com o declínio da mobilidade pós AVE e programas que evitem o sedentarismo, que melhorem a marcha e atividades relacionadas a marcha são muito importantes para hemiparéticos. Estudos indicam que mesmo na fase crônica, podem ocorrer mudanças na capacidade de andar, quando hemiparéticos são submetidos a intervenções fisioterapêuticas específicas.

Intervenções cardiorrespiratória ainda não fazem parte dos programas rotineiros de centros de reabilitação neurológica e frequentemente as terapias tem suas bases em princípios do desenvolvimento neuro evolutivos como o conceito Bobath.

Convivendo com nossos hemiparéticos sedentários na FCT-UNESP começamos estudar protocolos de tratamento para implementar nossa prática fisioterapêutica e melhorar a qualidade de vida destes pacientes.

Encontramos diversos estudos e revisões sistemáticas demonstram que diferentes formas de treinamento, todavia não há um consenso sobre o assunto, pois existe uma diversidade muito grande: 1) fase pós AVE ( agudo, sub agudo e crônico), 2) treinamento com ou sem a suspensão de peso, 3) treino de caminhada com ou sem esteira, 4) intensidade do treinamento (variação de 50 a 80% da frequência cardíaca de reserva), 5) duração do treinamento (4 a 16 semanas), 6) instrumentos de avaliação (Teste de caminhada de 6min, Teste de velocidade de marcha de 10metros, Escala de Equilíbrio de Berg, etc).

Diante deste nosso debruçar sobre a literatura observamos que  o treinamento de marcha na esteira tem demonstrado uma ótima estratégia/ferramenta para retirar os nossos pacientes do sedentarismo e melhorar a qualidade de vida e motricidade funcional, todavia  antes de iniciarmos o treinamento na esteira surgiram algumas perguntas que serão respondidas ao longo das próximas postagens:



Pode-se perceber com estas perguntas que o fisioterapeuta precisa estar preparado para alterar o comportamento sedentário e que o processo é complexo e necessita de muita responsabilidade tanto do terapeuta como do paciente e seus familiares.

Mudanças de tempo.
Os exercícios físicos aeróbicos chegaram na neurologia. A figura demonstra dois pacientes sendo submetidos a um protocolo de treinamento aeróbico em estudo na FCT-UNESP. 

As próximas postagens trarão maiores detalhes/respostas de cada pergunta apresentada e os diferentes protocolos existentes na literatura para você pensar, estudar e praticar com seus pacientes.



A pérola fisioterapêutica desta postagem norteia-se em:

A prática de exercícios aeróbicos em pacientes neurológicos tem sido cada vez mais difundida na literatura e cabe a nós fisioterapeutas quebrar os paradigmas de que o paciente neurológico não pode fazer exercícios pois aumenta o padrão espásticos e postural.

Por hoje é isto!
Espero que você possa pensar neste assunto e fazer suas considerações deixando um comentário e compartilhando este post.
Um abraço fisioterapêutico.