Prezados
Colegas
Espero
que estejam bem e com saúde!
A
minha postagem hoje será sobre “Como e quando devemos realizar um
condicionamento físico em crianças com paralisia cerebral?”Existe
uma evidência limitada sobre o efeito do treinamento cardiorrespiratório em
crianças com paralisia cerebral (PC), porém os estudos disponíveis sugerem que
o treinamento aeróbio pode melhorar o condicionamento físico.
Crianças
PC apresentam níveis reduzidos de aptidão física em comparação com crianças com
a mesma idade de desenvolvimento, devido as deficiências motoras que impedem o
seu envolvimento em atividades físicas intensas como as recreativas e esportivas
que exigem mais do sistema cardiorrespiratório do que atividades cotidianas.
Observa-se na prática clínica que crianças com PC deambulam curtos espaços e
apresentam-se cansadas mais rapidamente do que crianças sem PC.
O
treinamento físico pode reduzir muitas condições secundárias indesejáveis em crianças
com PC como a fadiga geral, intolerância ao exercício e pode ajudar a melhorar
a postura, tônus muscular e equilíbrio.
Um estudo controlado
randomizado relatou que um programa de treinamento físico melhorou condicionamento
físico, o nível de participação, bem como a qualidade de vida em crianças com
paralisia cerebral, quando comparado ao tratamento padrão (Verschuren, O., Ketelaar, M., Gorter, J.,
Helders, P., Uiterwaal, C., & Takken, T. . Exercise training program
in children and adolescents with cerebral palsy—A randomized controlled trial. Archieve
Pediatric and Adolescent Medicine, 161(11), 1075–1081, 2007) porém outro estudo que avaliou os efeitos do exercício de alongamento foi
inconclusivo (Wiart, L., Darrah, J.,
& Kembhavi, G. (2008). Stretching with children with cerebral palsy: What
do we know and where are we going? Pediatric Physical Therapy, 20(2), 173–178.)
Outro estudo mostrou
que a intervenção de exercício durante 6 semanas com bicicleta e esteira
melhorou a função motora grossa para as crianças não-ambulantes com PC todavia
os resultados não se mantiveram quando o tratamento foi interrompido (Bryant, E., Pountney, T., Williams, H.,
& Edelman, N. (2013). Can a six-week exercise intervention improve gross
motor function for non-ambulant children with cerebral palsy?. A pilot
randomized control trial. Clinical Rehabilitation, 27(2), 150–159).
Os
trabalhos apresentados acima e a sugestão de leitura revelam a complexidade do assunto.
Ainda não há um consenso na literatura da melhor forma de se realizar um treinamento
de condicionamento físico, além disso, não está claro em que nível de acometimento
deve-se aplicar o treinamento.
Diante disto,
questiona-se quando devemos pensar no condicionamento físico de uma criança com
PC além da terapia clássica que objetiva facilitar uma motricidade funcional
voluntária?
1)
As terapias de PC com nível de acometimento motor funcional grave objetivam
melhorar a amplitude articular, flexibilidade e tônus muscular, controle de posturas
e movimentos funcionais voluntários. A figura 1A demonstra a terapeuta
mobilizando a articulação do ombro para melhorar a amplitude
articular e o tônus muscular num posicionamento de inibição de padrão
patológico. Na figura 1B o terapeuta posiciona a criança na posição de gato para
estimular o controle de pescoço ao passo, que na 1C o terapeuta está facilitando
a abdução das escápulas, inibindo o seu padrão adutor que dificulta a utilização funcional das mãos. Observa-se que as 3 manobras exigem o mínimo esforço e estas
crianças não apresentam condições de manter um movimento voluntário rítmico e repetitivo
com sobrecarga cardiorrespiratória.
2)
A figura 2A o terapeuta busca melhorar controle de tronco da criança deslocando-a
para frente e exigindo uma contração muscular para manutenção de uma postura
equilibrada. Na figura 2B o grau de dificuldade do movimento é maior porque a
criança deve-se manter na posição sentada sobre um rolo e executar movimentos de membros superiores sobre a mesa. A figura 2C demonstra que a criança
necessita de movimentos voluntários para escalar os rolos com tamanhos diferentes. Nestas manobras pode
observar movimentos voluntários e repetitivos todavia a terapêutica da figura 2C é a que poderá
exigir uma esforço maior da criança desde que se mantenha por um período prolongado.
3) A figura 3A demonstra a
terapeuta deslocando o centro de gravidade da criança sobre a bola para treinar a força dos músculos do tronco. Na manutenção da postura em pé o grau de dificuldade é maior e exige que o paciente faça mais força com os membros inferiores durante o deslocamento do tronco e atividades de membros superiores (Figura 3B). A
figura 3C demonstra um grau de dificuldade muito maior, na escalada
do espaldar com o apoio do terapeuta facilitando e posicionando os pés e as
mãos da criança. As figuras demonstram uma prática de inibição de posturas
inadequadas e facilitação de movimento voluntário, todavia não prioriza o
condicionamento físico.
Portanto
deve-se pensar em exercícios que visem movimentos com sobrecarga cardiorrespiratória
na prática fisioterapêutica cotidiana quando a criança tem um grau de
mobilidade capaz de participar de uma prática repetitiva. O vídeo apresenta uma
criança hemiparética por PC capaz de se manter andando sobre uma esteira por um
determinado tempo que pode ser aumentado progressivamente.
Os
critérios de intensidade do condicionamento ainda são pouco descritos na
literatura, e enquanto isto não ocorre o fisioterapeuta precisa sensibilizar-se
e ambientar-se com a esteira para crianças com PC de diferentes topografias.
A pérola fisioterapêutica desta postagem norteia-se em:
O fisioterapeuta precisa pensar em exercícios para melhorar o
condicionamento físico da criança com PC e a esteira é uma boa opção para
iniciar este condicionamento.
Por hoje é isto!
Espero que você possa pensar neste assunto e fazer suas considerações
deixando um comentário e compartilhando este post.
Um abraço fisioterapêutico.
Sugestão
de leitura:
Jane M. Butler, Aline
Scianni and Louise Ada. Effect of cardiorespiratory training on aerobic fitness
and carryover to activity in children with cerebral palsy: a systematic review.
International Journal of Rehabilitation Research 33:97–103, 2010.
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