domingo, 18 de janeiro de 2015

Como e quando devemos realizar um condicionamento físico em crianças com paralisia cerebral?

Prezados Colegas

Espero que estejam bem e com saúde!

A minha postagem hoje será sobre “Como e quando devemos realizar um condicionamento físico em crianças com paralisia cerebral?”Existe uma evidência limitada sobre o efeito do treinamento cardiorrespiratório em crianças com paralisia cerebral (PC), porém os estudos disponíveis sugerem que o treinamento aeróbio pode melhorar o condicionamento físico.

Crianças PC apresentam níveis reduzidos de aptidão física em comparação com crianças com a mesma idade de desenvolvimento, devido as deficiências motoras que impedem o seu envolvimento em atividades físicas intensas como as recreativas e esportivas que exigem mais do sistema cardiorrespiratório do que atividades cotidianas. Observa-se na prática clínica que crianças com PC deambulam curtos espaços e apresentam-se cansadas mais rapidamente do que crianças sem PC.

O treinamento físico pode reduzir muitas condições secundárias indesejáveis em crianças com PC como a fadiga geral, intolerância ao exercício e pode ajudar a melhorar a postura, tônus muscular e equilíbrio.

Um estudo controlado randomizado relatou que um programa de treinamento físico melhorou condicionamento físico, o nível de participação, bem como a qualidade de vida em crianças com paralisia cerebral, quando comparado ao tratamento padrão (Verschuren, O., Ketelaar, M., Gorter, J., Helders, P., Uiterwaal, C., & Takken, T. . Exercise training program in children and adolescents with cerebral palsy—A randomized controlled trial. Archieve Pediatric and Adolescent Medicine, 161(11), 1075–1081, 2007) porém outro estudo que avaliou  os efeitos do exercício de alongamento foi inconclusivo (Wiart, L., Darrah, J., & Kembhavi, G. (2008). Stretching with children with cerebral palsy: What do we know and where are we going? Pediatric Physical Therapy, 20(2), 173–178.)

Outro estudo mostrou que a intervenção de exercício durante 6 semanas com bicicleta e esteira melhorou a função motora grossa para as crianças não-ambulantes com PC todavia os resultados não se mantiveram quando o tratamento foi interrompido (Bryant, E., Pountney, T., Williams, H., & Edelman, N. (2013). Can a six-week exercise intervention improve gross motor function for non-ambulant children with cerebral palsy?. A pilot randomized control trial. Clinical Rehabilitation, 27(2), 150–159).

Os trabalhos apresentados acima e a sugestão de leitura revelam a complexidade do assunto. Ainda não há um consenso na literatura da melhor forma de se realizar um treinamento de condicionamento físico, além disso, não está claro em que nível de acometimento deve-se aplicar o treinamento.

Diante disto, questiona-se quando devemos pensar no condicionamento físico de uma criança com PC além da terapia clássica que objetiva facilitar uma motricidade funcional voluntária?

1) As terapias de PC com nível de acometimento motor funcional grave objetivam melhorar a amplitude articular, flexibilidade e tônus muscular, controle de posturas e movimentos funcionais voluntários. A figura 1A demonstra a terapeuta mobilizando a articulação do ombro para melhorar a amplitude articular e o tônus muscular num posicionamento de inibição de padrão patológico. Na figura 1B o terapeuta posiciona a criança na posição de gato para estimular o controle de pescoço ao passo, que na 1C o terapeuta está facilitando a abdução das escápulas, inibindo o seu padrão adutor que dificulta a utilização funcional das mãos. Observa-se que as 3 manobras exigem o mínimo esforço e estas crianças não apresentam condições de manter um movimento voluntário rítmico e repetitivo com sobrecarga cardiorrespiratória.




2) A figura 2A o terapeuta busca melhorar controle de tronco da criança deslocando-a para frente e exigindo uma contração muscular para manutenção de uma postura equilibrada. Na figura 2B o grau de dificuldade do movimento é maior porque a criança deve-se manter na posição sentada sobre um rolo e executar movimentos de membros superiores sobre a mesa. A figura 2C demonstra que a criança necessita de movimentos voluntários para escalar os rolos com tamanhos diferentes. Nestas manobras pode observar movimentos voluntários e repetitivos todavia a terapêutica da figura 2C é a que poderá exigir uma esforço maior da criança desde que se mantenha por um período prolongado.



3)  A figura 3A demonstra a terapeuta deslocando o centro de gravidade da criança sobre a bola para treinar a força dos músculos do tronco. Na manutenção da postura em pé o grau de dificuldade é maior e exige que o paciente faça mais força com os membros inferiores durante o deslocamento do tronco e atividades de membros superiores (Figura 3B). A figura 3C demonstra um grau de dificuldade muito maior, na escalada do espaldar com o apoio do terapeuta facilitando e posicionando os pés e as mãos da criança. As figuras demonstram uma prática de inibição de posturas inadequadas e facilitação de movimento voluntário, todavia não prioriza o condicionamento físico.




Portanto deve-se pensar em exercícios que visem movimentos com sobrecarga cardiorrespiratória na prática fisioterapêutica cotidiana quando a criança tem um grau de mobilidade capaz de participar de uma prática repetitiva. O vídeo apresenta uma criança hemiparética por PC capaz de se manter andando sobre uma esteira por um determinado tempo que pode ser aumentado progressivamente.



Os critérios de intensidade do condicionamento ainda são pouco descritos na literatura, e enquanto isto não ocorre o fisioterapeuta precisa sensibilizar-se e ambientar-se com a esteira para crianças com PC de diferentes topografias.

A pérola fisioterapêutica desta postagem norteia-se em:

O fisioterapeuta precisa pensar em exercícios para melhorar o condicionamento físico da criança com PC e a esteira é uma boa opção para iniciar este condicionamento.

Por hoje é isto!
Espero que você possa pensar neste assunto e fazer suas considerações deixando um comentário e compartilhando este post.
Um abraço fisioterapêutico.


Sugestão de leitura:
Jane M. Butler, Aline Scianni and Louise Ada. Effect of cardiorespiratory training on aerobic fitness and carryover to activity in children with cerebral palsy: a systematic review. International Journal of Rehabilitation Research 33:97–103, 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário