terça-feira, 28 de agosto de 2018

Conversando sobre o Exercício e a Esclerose Múltipla


Prezados Colegas Fisioterapeutas, Alunos e Pacientes  
Espero que estejam bem!
A minha postagem hoje será sobre o exercício para a pessoa com Esclerose Múltipla

No dia 30 de agosto comemoraremos o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla (EM) que é uma doença auto-imune, desmielinizante e que afeta aproximadamente 2,3 milhões de pessoas em todo o mundo.  As medicações atuais têm contribuído para a melhoria dos cuidados de saúde, bem como, têm ajudado mais pacientes a permanecerem estáveis ​​em sua doença, e consequentemente, viverem mais tempo. Todavia, o declínio da função ainda ocorre ao longo do tempo e na maioria das pessoas, por essa razão, desenvolve uma incapacidade física permanente. Sendo assim, a progressão da doença e os danos resultantes comprometem a qualidade vida.
A Fisioterapia tem como objetivo compensar as deficiências sensório-motoras e para tanto alguns aspectos precisam ficar evidentes para a pessoa com EM durante o tratamento.
No dia 25 de agosto de 2018, no Hospital Regional de Presidente Prudente foi realizado um evento com pessoas com EM e seus familiares para celebrar o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla que ocorrerá dia 30 deste mês.



Neste evento apresentei numa mesa redonda uma aula a partir minha experiência, dos meus estudos e dos questionamentos dos pacientes na prática clínica. Destaquei a importância do exercício em forma de perguntas e respostas que considerei importante:
Paciente: Por que eu tenho que fazer exercícios quando tenho esclerose múltipla?
Fisioterapeuta:
Todas as pessoas precisam fazer exercício independentemente de ter ou não uma doença. O exercício melhora a flexibilidade muscular, a mobilidade articular, a condição cardiorrespiratória, dentre outros benefícios.
O corpo humano foi projetado para realizar movimentos e quando ele fica muito tempo parado apresentará prejuízos como encurtamentos, flacidez muscular e acúmulo de gordura. Portanto, o sedentarismo é muito prejudicial ao corpo humano.  
A EM causa déficits importantes ao longo do tempo e quanto mais sedentário você for maior será as consequências da doença no seu corpo. 
Paciente: Quais são as características da esclerose múltipla que o exercício pode ajudar?
Fisioterapeuta:
Quando se faz exercícios o corpo precisa reagir porque sempre trabalhamos as deficiências desencadeadas pela doença. Portanto, o exercício melhora a força e a flexibilidade muscular, o equilíbrio e a coordenação, condicionamento cardiorrespiratório e diminui a fadiga e o risco de queda.
Cada dificuldade funcional que a EM causa deve ser trabalhada utilizando exercícios que simulem esta dificuldade tais como, por exemplo, levantar e sentar de uma cadeira, subir escadas. Quando não se faz exercício o corpo não reage, se mantem com a dificuldade e, portanto as dificuldades se mantêm.
Paciente: Quando eu devo parar de fazer exercícios?
Fisioterapeuta:
Todas as pessoas com ou sem EM devem fazer exercícios diariamente. O Colégio Americano de Medicina do Esporte preconiza que temos que andar 10.000 passos por dia e fazer exercícios 3 a 5 vezes por semana. Portanto, não pode-se parar de fazer exercícios.
Muitas vezes a pessoa com EM tem um grau de fadiga importante que faz com se desanime e pare temporariamente a prática de exercícios. Entretanto, isto é errado, porque quando a pessoa para de fazer exercícios perde-se muito do que se ganhou no período de treinamento.
Paciente: As vezes acho que os exercícios não alteram nada em minha vida.
Fisioterapeuta:
Este sentimento é comum. Às vezes a pessoa com EM não percebe as mudanças que o exercício faz em seu corpo porque acredita que ficará sem nenhum sinal e sintoma da EM.
O exercício faz pequenas mudanças no corpo que se soma ao longo tempo, além disso, previne perdas funcionais causadas pela EM.
Paciente: Devo fazer exercícios quando estou cansado?
Fisioterapeuta:
O cansaço (fadiga) é uma das características da EM. Não se pode deixar de fazer exercício quando se sente cansado ou fadigado, porém deve-se respeitar e diminuir a intensidade, a quantidade de exercício ou e também o número de dias de exercício.
Após o exercício não pode sentir-se esgotado ou com dor, pois isto é um sinal de excesso de trabalho podendo causar prejuízos funcionais. Adicionalmente, deixar de fazer exercício a cada estado de cansaço pode diminuir muito a qualidade e o resultado do exercício.
Paciente: Quais os tipos de exercícios eu posso fazer?
Fisioterapeuta:
Não há uma clara proibição para um modelo de exercício, todavia qualquer modalidade de exercício deve ocorrer após uma avaliação adequada utilizando critérios para medir as disfunções e as capacidades, com o objetivo de fazer um acompanhamento adequado.
As altas intensidades de exercícios com uma grande sobrecarga de peso, muitas repetições e dias por semana pode desencadear lesões muscular, ligamentares, articulares e dores, portando a intensidade deve ser moderada.
Observa-se trabalhos científicos com treino em esteira, pilates, fortalecimento muscular, natação demonstrando os benefícios do exercício devidamente ministrado.
Não fazer nenhuma modalidade de exercício leva ao sedentarismo e suas complicações. Fazer exercícios de alta intensidade, de muitas repetições causa lesão, fadiga e dor.
Paciente: Devo fazer exercício individual ou num grupo?
Fisioterapeuta:
Ambas as formas são recomendadas, todavia dependendo da evolução da EM você pode não acompanhar as atividades propostas no grupo, e portanto a terapia individual torna-se mais recomendada porque é elaborada especificamente para atender suas necessidades.
As terapias em grupo normalmente trabalham funcionalidade e dão oportunidades de conviver com pessoas na mesma situação permitindo as trocas de experiências. Pode-se também fazer as duas modalidades.
O primeiro vídeo demonstra um momento de fisioterapia em grupo no modelo de circuito de treinamento onde cada participante trabalha uma funcionalidade em estações separadas e ao comando troca de estação. O segundo vídeo demonstra um trabalho de coordenação, equilíbrio, memória e respiração utilizando o canto e a dança.

vídeo 1


vídeo 2


Paciente: Porque devo fazer exercícios em casa?
Fisioterapeuta:
Normalmente as pessoas com EM fazem sessões de 30 a 50 minutos de fisioterapia, 2 ou 3 vezes por semana e os demais dias você podem realizar os exercícios recomendados em sua casa, e por isso podendo treinar ainda mais seu corpo.
Fazer exercícios em casa requer treino, disposição e tempo para você cuidar de você. O corpo reage somente quando os estímulos são repetitivos. O seu fisioterapeuta pode elaborar uma cartilha de exercícios complementares ou os mesmo que você pratica durante as suas sessões.
Paciente: Quando devo adaptar minha casa ?
Fisioterapeuta:
Muitas vezes as pessoas recebem o diagnóstico de EM já apresentavam alguns sinais da doença, como dificuldade de andar e desequilíbrio e nestes casos a adaptação deve ser imediata.
As adaptações podem ser progressivas conforme os sinais vão surgindo. Algumas delas são retirar os tapetes evitando as quedas, colocação de barras de apoio no box do banheiro, assento fixo para lavar os pés,  portas toalhas e suporte para xampu fixo e de fácil acesso, bucha com cabo alongamento para auxiliar lavar as costas, tapete emborrachado dentro do box para não escorregar na espuma,  manter uma luz acesa a noite para iluminar o acesso ao banheiro, elevar a cama para facilitar o ficar em pé, poltronas e sofás confortáveis e com braços e assento alto para facilitar o sentar e o levantar.
O terapeuta ocupacional é o profissional preparado para dar as orientações necessárias para facilitar melhor suas funcionalidades.
Paciente: Quando devo usar uma bengala ou andador?
Fisioterapeuta:
Usar ou não uma bengala ou andador é uma decisão conjunta com o seu fisioterapeuta, todavia muitas pessoas com EM tem dificuldade de aceitar o uso acreditando que as pessoas irão identifica-los como doentes.
Quando o risco de queda é alto essa decisão deve ser tomada o mais rápido possível porque uma fratura óssea pode trazer muitas complicações. A adaptação da bengala pode ocorrer dentro de casa e se estender para as casas de pessoas mais próximas e assim a pessoa com EM perceberá a importância do acessório para sua segurança.
Paciente: O que eu faço quando os exercícios frustram as minhas expectativas?
Fisioterapeuta:
A EM é uma doença incapacitante e tem seu curso natural que pode ser controlado com a medicação, os exercícios e demais atividades propostas por outros profissionais da equipe.
Quanto mais a pessoa com EM participar de forma correta do seu tratamento, buscando conhecimento da doença com os profissionais, esclarecendo as pessoas ao seu redor menor será a sua frustração.
A psicologia é fundamental para o entendimento e aceitação das consequências da EM.

A pérola fisioterapêutica desta postagem norteia-se em:
O fisioterapeuta precisa estar sempre esclarecendo a importância do exercício para a pessoa com EM para que a adesão ao tratamento seja boa e constante e com isso pode-se obter um melhor resultado no tratamento.

Por hoje é isto!
Espero que você possa pensar neste assunto e fazer suas considerações deixando um comentário e compartilhando este post.

Um abraço.
Augusto Cesinando

Bibliografia Recomendada

Halabchi, F., Alizadeh, Z., Sahraian, M.A., Abolhasani, M.,Exercise prescription for patients with multiple sclerosis; potential benefits and practical recommendations. BMC Neurol. 2017 Sep 16;17(1):185. doi: 10.1186/s12883-017-0960-9.

domingo, 3 de setembro de 2017

Uma experiência com fisioterapia em circuito de treinamento

Prezados Colegas e alunos
Espero que estejam bem e com saúde!

A postagem hoje será para apresentar a nossa a experiência em Fisioterapia no Formato de Circuito de Treinamento (FCT). Realizamos um vídeo de uma sessão de FCT para que vocês possam começar pensar no assunto e tentar experimentar com seus pacientes.

veja o nosso vídeo aqui:



ou acesse pelo youtube:https://www.youtube.com/watch?v=Y9FYUGehXko

Hemiparéticos apresentam baixos níveis de atividade física chegando a níveis menores que a metade do verificado em sedentários adultos tanto em ambientes hospitalares como na comunidade. Estes  baixos níveis de aptidão são comuns nesses indivíduos, podendo ter a condição cardiorrespiratória 50% do valor em pessoas saudáveis. Quando o nível de aptidão é baixo as atividades físicas e funcionais podem ficar limitadas. 

A FCT é um método de reabilitação e pode ser utilizado em hemiparéticos e o seu principal componente é a prática de tarefas repetitivas. Esta terapia leva a melhora da mobilidade de  membros superiores, inferiores e tronco  e pode ser empregada tanto em hospital como em clínicas e ambulatórios e tem capacidade para elevar os níveis de atividade física de hemiparéticos.

A FCT é composta por um conjunto de atividades específicas e progressivas, de tal forma que cada participante busca sua capacidade máxima, permitindo que seja um modelo terapêutico que pode ser adicional a fisioterapia convencional ou ser a terapia principal. É um método que não necessita de altos custos para o sistema de saúde, além de promover maior interação social. O formato desta terapêutica fornece um ambiente ideal para a aprendizagem motora, além de minimizar os efeitos decorrentes da inatividade, reduzir os riscos que levam a alterações cardiovasculares prejudiciais e melhorar o condicionamento cardiorrespiratório.

A FCT difere da fisioterapia convencional, principalmente devido a configuração de grupo com mais de dois participantes por terapeuta além disso, as sessões são focadas na repetição e progressão contínua de exercícios funcionais em estações de trabalhos dispostos sequenciadas.

A FCT apresenta  características importantes de um treinamento físico e os exercícios podem ocorrer com os pacientes sentados em uma cadeira ou andando sobre obstáculos, segurando objetos, andando rápido em um círculo, dentre outras. A terapia envolve pacientes geralmente com um grau semelhante de habilidade funcional. A duração pode ser o mesmo tempo de uma terapia convencional, cabendo apenas dividir o tempo da sessão pelo número de estações incluindo o deslocamento entre elas. Esse treinamento pode afetar positivamente a autoestima, a motivação e os relacionamentos.

A pérola fisioterapêutica desta postagem norteia-se em:

A fisioterapia no formato de circuito pode ser adotada por fisioterapeutas, pois aumenta o leque terapêutico para hemiparéticos melhorando a habilidade motora e a qualidade de vida. Ela é praticada em grupo mas pode ser realizada individualmente.

Por hoje é isto!
Espero que você possa pensar neste assunto e fazer suas considerações deixando um comentário e compartilhando este post.

Um abraço fisioterapêutico.
Augusto Cesinando

Sugestão de bibliografia
English CK, Hillier SL, Stiller KR, Warden-Flood A. Circuit class therapy versus individual physiotherapy sessions during inpatient stroke rehabilitation: a controlled trial. Arch Phys Med Rehabil. 2007 Aug;88(8):955-63.

English C, Hillier S. Circuit class therapy for improving mobility after stroke: a systematic review. J Rehabil Med. 2011 Jun;43(7):565-71. doi: 10.2340/16501977-0824.



domingo, 18 de junho de 2017

Qual é a velocidade inicial de um esteira para um hemiparético?

Prezados colegas fisioterapeutas e alunos

Espero que estejam bem e com saúde!

A minha postagem hoje é sobre o treino de marcha de hemiparéticos na esteira.

Hemiparéticos normalmente tem uma vida sedentária e pouco condicionamento físico, devido às alterações trazidas pelo déficit de movimento e função e isto pode aumentar o risco de recidiva de um outro acidente vascular cerebral (AVC), aumentar o risco de quedas, reduzir a participação de atividades sociais e familiares além de aumentar a dependência de outras pessoas.

Os hemiparéticos que atingem uma deambulação independente, porém podem apresentar redução de velocidade, distância percorrida, instabilidade postural, contribuindo ainda mais para a condição de sedentarismo e por isso surge a necessidade de treinamento físicos específicos para melhorar estas condições físicas e funcionais.

Frequentemente as sessões de fisioterapias tem suas bases em princípios do desenvolvimento neuro evolutivos que não apresentam estímulos suficientes para aumentar a desempenho cardiorrespiratório pós AVC.

O treino de marcha em esteira, realizado em intensidades variadas da frequência cardíaca de reserva, tem sido realizado como uma intervenção para aumentar a performance motora e a condição cardiorrespiratória de hemiparéticos, apesar das deficiências residuais, assimetrias e limitações nas atividades.

Para melhorar a performance motora de hemiparéticos crônicos há a necessidade de estabelecer parâmetros de treinamentos de maior intensidade cardiorrespiratória em centros de reabilitação para diminuir a condição de sedentarismo e melhorar assim diversos aspectos de sua saúde.

Antes de pensarmos em treinamento aeróbio precisávamos estabelecer parâmetros do treino inicial de marcha fora das barras paralelas e portanto, nossa primeira dúvida foi qual seria velocidade que deveríamos colocar na esteira para iniciar o treino de marcha dos nossos hemiparéticos.



Para tanto realizamos Teste de velocidade de marcha de 10 metros (TV10M) que é um teste quantitativo simples para avaliar a marcha e consiste em andar em velocidade habitual em um corredor de pelo menos 14 metros, onde o tempo necessário para percorrer os 10 metros centrais é registrado por meio de um cronômetro digital, sendo desconsiderados os dois metros iniciais e finais.

A seguir realizamos o Teste de Esforço (TES) para verificar a tolerância que os hemiparéticos tinham em relação ao exercício e à fadiga. Neste teste os hemiparéticos caminhavam num corredor de 30 metros sinalizado, onde eram estimulados constantemente pelo terapeuta até solicitarem para interromper a caminhada devido ao cansaço Este teste foi estabelecido, pois tínhamos a intenção de iniciarmos treinamentos de 30 minutos de esteira.

Na presença de sinais e sintomas como tontura, falta de ar, alteração brusca de frequência cardíaca ou dores intensas, finalizavámos o teste independente da ausência de fadiga.

Durante os testes verificávamos os parâmetros cardiorrespiratórios (pressão arterial, frequência cardíaca e saturação de O2), em repouso e no final do teste. A frequência cardíaca monitorada constantemente para evitar que se ultrapassasse a frequência cardíaca máxima (FCM) determinada pela fórmula para aqueles que não utilizavam beta bloqueadores:

FCM: 220 - IDADE


Como calculamos a velocidade que os hemiparéticos realizaram os dois testes?

A partir da distância percorrida sobre o tempo gasto para a execução dos testes. Após o teste, verifica-se a distância percorrida e o tempo gasto para sua realização e a partir disto, calcula-se a velocidade da marcha utilizando a fórmula:

Velocidade: distancia /tempo

Como queríamos investigar qual seria a velocidade inicial de uma esteira para melhorarmos a performance motora funcional da marcha ou iniciar um treinamento aeróbio de hemiparéticos crônicos após os testes calculamos a velocidade de cada um. Portanto cada hemiparético tinha sua própria velocidade inicial de esteira.



Os resultados do nosso estudo mostraram velocidades semelhantes entre o TV10M e TES. Os resultados de TV10M não revelaram o tempo de tolerância que os hemiparéticos tinham ao exercício contínuo da marcha devido a própria característica do teste.

Já com TES pudemos obter além o tempo de tolerância, a distância percorrida e consequentemente a velocidade da marcha. Neste teste muitos pacientes não deambulavam muitos minutos demonstrando claramente a falta de condicionamento físico revelando uma vida sedentária.

Vários trabalhos demonstram treinamento de marcha de hemiparéticos na esteira com duração de 20 a 60 minutos em diferentes intensidades. Os parâmetros de treinamento devem ser estudados para serem estabelecidos progressivamente e com segurança.

O TES se revelou é um importante e instrumento para avaliar hemiparéticos cujo objetivo for treino enquanto que o TV10M pode ser utilizado para iniciar a adaptação do treino de marcha na esteira.

A pérola fisioterapêutica desta postagem norteia-se em:

O treina de marcha em esteira pode estar associado a fisioterapia convencional e a velocidade desta esteira pode ser estabelecida com o teste de caminhada de 10 metros. O tempo de duração do treino pode estabelecido a partir do teste esforço.

Por hoje é isto!
Espero que vocês possam pensar neste assunto, utilizarem em seus pacientes e fazerem suas considerações deixando um comentário e compartilhando este post.

Um abraço fisioterapêutico.
Augusto Cesinando

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Esta postagem está baseada no trabalho Como determinar a velocidade inicial da esteira no treinamento aeróbio de hemiparéticos crônicos? publicado na Revista Acta Fisiatr. 2016;23(1):12-15 cujos autores são: Augusto Cesinando de Carvalho, Fernanda Contri Messali, Roselene Modolo Regueiro Lorençoni, Fabricio Eduardo Rossi, Lucia Martins Barbatto, Tania Cristina Bofi, Fabiana Araujo Silva4, Luiz Carlos Marques Vanderlei.

domingo, 18 de setembro de 2016

CUIDADOS PALIATIVOS - Cuidando de pacientes em fase terminal


Prezados Colegas e alunos

Espero que estejam bem e com saúde!

A minha postagem hoje trata de um assunto complexo e não muito discutido. Muitos familiares e pacientes com esclerose lateral amiotrófica (ELA) têm vivido na clínica da nossa universidade e por isso resolvi desenvolver o tema Cuidados Paliativos – Cuidando de pacientes em fase terminal nesta postagem


O paciente sem possibilidades terapêuticas de cura na sua fase terminal, e ou durante todo o período da doença, apresenta fragilidades e limitações de natureza física, psicológica, social.  A partir disto, surge a ideia a de que não há mais nada a se fazer pelo paciente sem possibilidades de cura, todavia há a necessidade de diversos cuidados e neste sentido, a atuação da equipe multiprofissional é primordial e indispensável para proporcionar o máximo de conforto ao paciente, ajudando-o a vivenciar o processo de vida e o processos de morrer com dignidade utilizando-se dos seus direitos da melhor forma possível, o tempo que lhe é possível.

Diante desta nova visão, surgiu a necessidade de um modo específico de cuidar. A Organização Mundial de Saúde (http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs402/en/ ) definiu então um  conceito denominado de Cuidados Paliativos, que são cuidados ativos e totais ao paciente cuja doença não responde mais ao tratamento curativo. É uma abordagem de cuidado diferenciado que visa melhorar a qualidade de vida do paciente, dos seus familiares avaliando e tratando os sinais e sintomas da doença, além de proporcionar suporte psicossocial e espiritual. Este tipo de cuidado deve ser integral e humanizado, empregando a comunicação verbal e não-verbal.

No passado tratávamos os doentes enquanto se considerava a possibilidade de cura e quando isto se esgotava havia o aconselhamento para família levar o paciente para morrer em casa e em paz, todavia muitas pessoas morriam no meio de sofrimentos horríveis.

Atualmente os cuidados paliativos começaram a ser oferecido amplamente e de forma mais integrada em serviços de saúde. A maioria das mortes ocorre entre pessoas que são mais velhos e há relativamente pouca política especificas para o fim da vida. Populações em todo o mundo estão envelhecendo, levando a um aumento dramático no número de pessoas que vivem mais tempo e o padrão de doenças nos últimos anos de vida também vem mudando, com mais pessoas morrendo de doenças crônicas debilitantes como as doenças cardiovasculares, cerebrovasculares, doenças pulmonares obstrutivas, diabetes, esclerose lateral amiotrófica (ELA), cânceres e demência. Muitas destas doenças entre os idosos e este grupo frequentemente experimenta um conjunto de problemas de saúde e deficiência.

Recentemente a ciência resolveu assumir a responsabilidade que o compromisso dos profissionais da saúde só termina com a morte do paciente, quer ele esteja em casa, clínicas, asilos, casa de repouso ou no hospital. Esta nova concepção de atendimento a estes doentes determinou o surgimento da especialidade em cuidados paliativos cujo objetivo é aliviar o sofrimento e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com doença ativa e progressiva com prognostico de morte.

Os cuidados paliativos devem incluir investigações para o melhor entendimento e manejo de complicações e sintomas relacionados ao tratamento e à evolução da doença. Apesar da conotação passiva e negativa do termo paliativo, a abordagem e deste tratamento deve ser positivo e ativo.

Os profissionais devem tratar o doente e não mais de sua doença, assistindo suas necessidades e sintomas, do ponto de vista físico, vista emocional, social e espiritual, além de olhar para a família, para o cuidador durante todo o processo e também depois da morte.

Normalmente uma equipe de cuidados paliativos é composta por médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos. Cada profissional desta equipe utiliza suas competências para dar uma melhor qualidade de vida e de morte para estes pacientes.

Os objetivos dos cuidados paliativos são: aliviar para dor, a astenia, a anorexia, a dispneia; reafirmar vida e a morte como processos naturais; não apressar ou adiar a morte; oferecer um suporte de apoio familiar para lidar com a doença do paciente e suas consequências na vida diária; oferecer uma abordagem interdisciplinar para acessar necessidades clínicas e psicossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento e suporte ao luto;

Os pontos considerados fundamentais no tratamento são: a unidade de tratamento compreende o paciente e sua família; os sinais e sintomas do paciente devem ser avaliados rotineiramente e gerenciados de forma eficaz através de consultas frequentes e intervenções ativas; as decisões relacionadas à assistência e aos tratamentos devem ser feitos com base em princípios éticos. Os cuidados paliativos devem ser fornecidos em todas as suas dimensões, na definição e condução dos tratamentos farmacológicos e não farmacológicos imprescindíveis para o controle de todo e qualquer sintoma.

A comunicação adequada entre equipe de saúde e familiares e pacientes é a base para o esclarecimento e favorecimento da adesão ao tratamento e aceitação da proximidade da morte.

Dentre os diversos sinais e sintomas que se deve anemizar são: a dor, a fadiga, a falta de ar, as náuseas, os vômitos, a perda de apetite, o emagrecimento, as escaras, as infecções, a febre, a depressão, a angústia, o medo e a solidão dentre vários outros problemas.

Um ponto ainda nevrálgico nesta área da ciência é a falta de habilidades e conhecimentos por de vários profissionais no que se refere à comunicação com o paciente sem possibilidades de cura. A falta de comunicação determina o distanciamento do profissional com o paciente tornando-se um problema preocupante devido ao contato direto, diário, constante durante sua estadia na instituição terapêutica. Este tópico é muitas vezes negligenciado, embora seja muito relevante.

Ainda há muita dificuldade de comunicação entre os profissionais e o paciente. Muitas vezes a família e o doente não conseguem entender o processo que estão vivendo e, por isso ouvir todos os problemas, por mais simples que sejam, é muito importante. É preciso compreender as histórias da doença, da vida, a cultura em que tudo está inserido. Toda equipe deve estar atenta às características e condições do doente e sua família discutindo entre si sem sobreposição de poderes.

Os profissionais envolvidos devem ser capazes de realizar abordagens que permitam entender o doente como ser humano e colocar-se no lugar dele. Muitos doentes e familiares percebem quando sua vida está chegando ao fim e neste período, é importante ouvir os desejos e as necessidades e tranquilizando o máximo possível todos os envolvidos.  O melhor local da morte tem quer ser discutido e deve oferecer as condições apropriadas de assistência. Muitos ainda procuram  os hospitais para morrer, porque a maioria dos serviços não consegue oferecer o apoio adequado para que a morte ocorra em casa.

Os hospitais ainda não estão adequados para receberem doentes terminais porque não tem estrutura física e funcional para manter o convívio do paciente com sua família. A tecnologia melhorou muito os tratamentos, porém desumanizou o ambiente.

Os cuidados paliativos também objetivam utilizar a tecnologia para resgatar o lado humano que existe dentro dos profissionais, pois a função da equipe de cuidados paliativos é ajudar o doente, a família entenderem a evolução da doença e em que estágio o paciente se encontra.

A pérola fisioterapêutica desta postagem norteia-se em:

A fisioterapia tem uma participação importante nos cuidados paliativos porque tem conhecimentos, habilidades, métodos e recursos importantes para a avaliação e tratamento do doente.

O fisioterapeuta atua na diminuição das dores, na diminuição dos encurtamentos e contratura musculares, nas alterações pulmonares como a atelectasia, a dispneia o acúmulo de secreções. Melhora padrões ventilatórios e conscientização diafragmática; realiza orientação postural; realiza técnicas de relaxamento; diminui déficits motores, de um segmento ou global.

A terapia se utiliza de movimentos como forma de tratamento favorecendo a mobilidade melhorando o desempenho funcional dos segmentos corporais, a força, o tônus e o trofismo muscular. Estimula a propriocepção articular, a amplitude articular, a resistência à fadiga, o treino de equilíbrio, a coordenação, o treino de marcha e as mudanças frequentes de decúbito de decúbito.

A utilização de órteses permite estabilização e posicionamento prevenindo deformidades, fraturas, dor, limitação da mobilidade muscular e articular. A eletroterapia é uma terapêutica que traz alívio de dor dos pacientes. As modificações ambientais e a utilização de músicas, as brincadeiras, livros, jogos, brinquedos, no tratamento pediátrico melhora a adesão

A fisioterapia deve ser for iniciada o mais breve possível para o retardamento da dependência funcional do paciente.

Por hoje é isto!
Espero que você possa pensar neste assunto, utilizar em seus pacientes e fazer suas considerações deixando um comentário e compartilhando este post.

Um abraço fisioterapêutico.
Augusto Cesinando



domingo, 30 de agosto de 2015

Fisioterapia e dança no parkinsoniano


Prezados Colegas e alunos

Espero que estejam bem e com saúde!

A minha postagem hoje será sobre a experiência com um treino de dança com parkinsonianos.

Doença de Parkinson (DP) é uma doença neuro degenerativa e progressiva que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Estima-se que 1-2% da população mundial apresenta a DP, podendo estes valores chegar a aproximadamente 8%, quando analisados idosos institucionalizados. É uma doença crônica e acomete mais frequentemente pessoas com idade entre 50 a 70 anos.

Os sinais e sintomas da DP são: a) bradicinesia, que consiste na diminuição dos movimentos espontâneos, especialmente os automáticos; b) rigidez muscular; c) tremor de repouso, que desaparece ao movimento voluntário; e d) instabilidade postural; d) fraqueza muscular; e) déficit na marcha, com pequenos passos e sem movimentos dos membros superiores; f) déficit de equilíbrio dentre outros. Estes déficits contribuem para a redução e perda da independência e autonomia na realização das atividades da vida diária, maior risco de quedas, osteoporose, doenças cardiovasculares e inatividade física.

A dança tem sido apresentada como uma forma de exercício para as pessoas com DP, especialmente para aqueles que são recém-diagnosticados ou que têm gravidade leve a moderada. A dança pode ter um impacto positivo, pois estimula a mobilidade, o equilíbrio e a coordenação, melhora a iniciação de movimentos, além de reduzir os sintomas depressivos e estimular a socialização.

A dança muitas vezes envolvem tarefas que desafiam a coordenação e flexibilidade do corpo, ela exige uma ampla gama de qualidades de movimento, e dependendo do estilo altera a postura e pode desencadear um processo mudança de estrutura do corpo dando uma maior estabilidade e funcionalidade.

O medo de cair é muito comum e pode causar diminuir auto estima e aumentar a ansiedade, e a dança  pode ajudar melhorar a auto confiança.

A Associação Americana de Terapia de Dança define a terapia com dança como ''a utilização psicoterapêutica do movimento para promover a integração emocional, cognitivo, físico e social do indivíduo'' e, portanto a dança é uma ferramenta terapêutica para parkinsonianos e pode ser visto como uma forma alternativa de atividade física e exercício físico.

Diversos mecanismos podem influenciar o sistema músculo esquelético a partir da dança. A exemplo disto foi observado o aumento da atividade dos gânglios da base, particularmente o putâmen de bailarinos amadores de tango e este aumento poderia melhorar a capacidade funcional de parkinsonianos.

Existem estudos que mostraram que tango é um gênero de dança benéfico para as pessoas com DP, pois reduz a gravidade do comprometimento motor, melhora o equilíbrio, a mobilidade funcional e resistência física a participação e qualidade de vida. O tango é tido com um bom modelo porque estimula o equilíbrio dinâmico, a iniciação do movimento, as múltiplas direções, variações rítmicas e velocidade o que não pode ser evidenciado tão claramente em outras formas. A literatura não contra indica outros gêneros, pois o benefício da dança inclui a cultura têm um significado adicional para as pessoas.

A maior parte da literatura demonstra que 1 hora de dança é um tempo interessante, porém é necessário mais estudos para confirmar. Além disso, a frequência de aulas semanais pode ser uma consideração importante. Mais do que uma aula por semana pode ser necessário para ser obter melhores resultados. Os estudos demonstra duração de intervenções de dança de 2 semanas a 12 meses. Intervenções duração mais longa podem ser mais benéficas, com melhoras. Os diferentes estágios da DP vão demonstrar respostas e resultados diferentes.


Diante deste cenário teórico resolvemos treinar a dança em nossos pacientes com um determinando gênero musical. No primeiro encontro nos reunimos numa sala e apresentamos a ideia/projeto de treinarmos durante 3 meses, duas vezes por semana durante 15 minutos após a fisioterapia em grupo. Discutiu-se ainda que no final deste período faríamos um vídeo para que fosse exposto na internet. Neste encontro apresentamos o vídeo original que treinaríamos e os prováveis passos que executaríamos no nosso projeto.

                   Vídeo - resultado final do treino com dança:


Vídeo - resultado final do treino com dança com canto associado:




Cada passo foi apresentado de forma segmentada a cada sessão de fisioterapia em grupo. A música somente era introduzida após a compreensão do passo. A cada sessão treinava se o passo anterior antes de introduzir o novo passo. No final do período todos os passos estavam treinados e a coreografia montada. Antes da filmagem foram confeccionadas camisetas e entregues a cada participante. Aqueles que quiseram participar da filmagem assinaram a autorização da divulgação das imagens.

Os pacientes tratados neste grupo são avaliados periodicamente, todavia este projeto não visou avaliar a melhora motora funcional neste período e sim qualificar melhor o processo terapêutico. O exemplo disto é que estes mesmos pacientes estão treinando outra música com outros passos. 

A experiência é enriquecedora e neste projeto pode-se observar as dificuldades na aquisição dos movimentos propostos e a evolução de muitos deles, além da satisfação e bem estar que o projeto gerou tanto nos pacientes como nos alunos e professores.

Este projeto foi organizado pelas alunas de graduação em fisioterapia Ana Luisa Bodstein, Daniela Lari Chedid, Fabiana Araujo Silva e Samira Pinas sob a coordenação dos Prof. Dr. Augusto Cesinando de Carvalho e Lúcia Martins Barbatto do curso de graduação em fisioterapia da FCT-UNESP, campus de Presidente Prudente, SP.

A pérola fisioterapêutica desta postagem norteia-se em:

A fisioterapia em grupo ou individual associada a dança pode ser adotada por fisioterapeutas, pois aumenta o leque de informações sensórios motoras aos parkinsonianos melhorando a habilidade motora e a qualidade de vida.

Por hoje é isto!

Espero que você possa pensar neste assunto, utilizar em seus pacientes e fazer suas considerações deixando um comentário e compartilhando este post.

Um abraço fisioterapêutico.
Augusto Cesinando

Sugestão de bibliografia
1.McNeely ME, Duncan RP, Earhart GM. A comparison of dance interventions in people with Parkinson disease and older adults. Maturitas. 2015 May;81(1):10-6.
2.Shanahan J, Morris ME, Bhriain ON, Saunders J, Clifford AM. Dance for people with Parkinson disease: what is the evidence telling us? Arch Phys Med Rehabil. 2015 Jan;96(1):141-53.
3.McGill A, Houston S, Lee RY. Dance for Parkinson's: a new framework for research on its physical, mental, emotional, and social benefits. Complement Ther Med. 2014 Jun;22(3):426-32.